segunda-feira, 14 de julho de 2014

Gente-poesia em três atos

Fotografia de Pedro Costa

A criança é a estrela aparentemente mais frágil de todo o céu,
mas tem o estranho hábito de ser a última a apagar-se.
Ana Cecília Romeu in Estrela Medrosa


I. Janela da Poesia

    pouco, ao dar uma oficina de poesia para meninos de 7 e 8 anos, projeto que chamei de “Janela da Poesia”, e idealizei em função dos personagens das Histórias do Condomínio (obra registrada na Biblioteca Nacional) - agora adaptados ao universo infantil -, desfrutei de momentos maravilhosos. Eu também fui um pouquinho criança brincando de Poesia com eles. Um trabalho que partiu da interpretação gestual à produção escrita livre dentro do tema escolhido e sua apresentação individual na Janela da Poesia (cenário móvel), além da produção de frases com rima e livres, criação do complemento de um desenho e sua pintura. O objetivo foi plenamente alcançado, todos brincaram com a poesia em suas várias formas, com ênfase na escrita. A oficina transcorreu de forma espontânea e fluente, porque as crianças são uma Poesia pronta. As crianças são Poesia em forma de gente!
   E o projeto seguirá.




II. Sobre as crianças, Gaza e todos os mundos

As pessoas não querem a verdade.
Luíse Rodrigues da Costa, de sete anos.

   “As pessoas não querem a verdade” – não sei de onde Luíse tirou essas palavras. Mas assim são as crianças: têm a sabedoria da simplicidade e percebem tudo. Fico pensando porque algumas conseguem ter uma infância plena; ao passo que outras têm carência de tudo. Porque algumas vivem aqui; ou lá... Umas são protegidas; outras à mercê. Mas, principalmente, me questiono: que tipo de infância teve pessoas que hoje matam a infância de outras, que assassinam crianças e demais inocentes? Seja em Gaza, seja em qualquer dos mundos...


III. Estrela medrosa

Às crianças por iluminar tantos dos meus caminhos

   A menina olhou as estrelas e chamou sua mãe. Teve certeza de que piscavam para ela. Falou sobre isso e ganhou um sorriso doce como resposta. A mãe colocou-a na cama e fechou as cortinas do quarto. Deu-lhe beijo de boa noite, tocando na ponta de seu narizinho.

   Hoje sei que elas nunca piscaram para mim. Sua vovó não me avisou sobre isso, mas creio que já o percebia. É que na verdade, as estrelas estão dormindo e acendem a luz por medo do escuro.
   A mulher repetiu o gesto de sua mãe tocando na ponta do narizinho de sua filha depois do beijo de boa noite. Deixou acesa a luz do abajur do criado-mudo.




*Editei esta postagem em forma de crônica que está publicada também nos jornais:

Correio do Povo (Porto Alegre)
NH (Novo Hamburgo)
Gazeta do Sul (Santa Cruz do Sul)
Jornal do Comércio (Porto Alegre).