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Rascunho (raf), de uma casa, feito nos anos 70,
por meu pai. |
Esta crônica* é uma homenagem a todos os pais no seu dia.
Em um canteiro de obras numa cidade litorânea do Rio Grande do Sul, o arquiteto entrega para duas crianças um balde com argamassa, a colher de pedreiro, e coloca perto uma pequena pilha de tijolos. Olhando para as meninas, diz:
- Construam a maior casa do mundo!
O arquiteto era meu pai. As crianças, eu e minha irmã.
Doces lembranças de um pai pronto a acompanhar as filhas e incentivar. Por diversas vezes, nos levava ao seu trabalho no escritório e em visitas às obras, assim, aprendemos a valorizar a utilidade de um ofício e também nos sentíamos prestigiadas.
Um pai que nunca reclamava do serviço, concluía, muitas vezes à noite na sala de jantar, suas plantas de arquitetura diante de nossos olhos curiosos, para poder ficar junto à família. Já vi muita casa aparecer e crescer em traços precisos da caneta de nanquim.
A paternidade é algo muito especial mesmo, a tarefa difícil de fornecer o material aos filhos, as ferramentas, proporcionar os meios e deixá-los orientados para fazerem por si mesmos.
É impor limites sabendo, mesmo assim, que é fundamental rir e brincar.
É doação. Trocar o programa preferido da TV pelo desenho animado do ursinho, o cowboy espacial, a princesa de cabelos longos e, mesmo cansado, ainda segurar o filho antes que ele caia do escorregador.
O pai é capaz de verdadeiras mágicas. Quando coloca o filho nos ombros, a criança ganha altura, tamanho, poder e sente-se, também ela, uma heroína do faz-de-conta, como a das historinhas que ouve ou lê. Assim, o genitor resolve em segundos o que a mãe poderia demorar bons minutos.
A paternidade é, principalmente, o preocupar-se em silêncio, o vigiar sem ser percebido, o alimentar o futuro de seus descendentes, como quem lê aquele bom livro ou assiste ao filme inesquecível, como se fosse um sonho em constante renovação a cada linha, em cada troca de cena. Pois, o pai sempre se realizará com as realizações de seus filhos: a sequência de seus próprios desejos, a herança em olhos atentos e felizes.
No decorrer de nossa vida poderemos não ter construído a “maior casa do mundo”, mas com certeza ela terá chão firme, paredes erguidas, um telhado para nos proteger e a quem a habitará depois, se contarmos com a presença de um pai que nos dê segurança, incentivo, boas lembranças, demonstrações de afeto e o mais franco sorriso. E ainda por cima, quando ao fim de nosso trabalho, mostrando a pilha torta de tijolos, ele disser:
- Perfeita! Esta é a maior casa do mundo!
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Eu (bebê menor), com minha irmã Bel e o pai Oscar. |
Dedico ao meu pai, Oscar da Silva Rodrigues, que desde 1994 está aproveitando a festa lá no Céu, ao som do maravilhoso Gardel.
* Publicada nos jornais:
NH (Novo Hamburgo), Correio Rural (Viamão),
Correio de Gravataí (Gravataí), Diário de Cachoeirinha (Cachoeirinha),
VS (São Leopoldo) e Diário de Viamão (Viamão).