quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Minicontos de futebol


Jogo sério
Pegou a bola do adversário, segurou com pé esquerdo, deu paradinha e enganou zagueiro, chutou com pé direito. 
- Gooooooooool.

— Vem jantar — disse mãe — Pára com esse jogo de botão. Foi isso o dia todo. 


Gol contra
Liga a TV.
Prorrogação.
Dribla um, dribla dois.
Bela jogada.
Vitória por morte súbita.


Namorada entra em casa.

Rei da embaixadas

Cem, trezentas, quinhentas, duas mil, doze mil.
Recorde sul-americano.

Chegou em casa. Esposa dançando flamenco com rosa vermelha na boca, disse:
— Venga mi amor!


Novo idioma

Chapéu, chaleira, pedalada, elástico, caneta.


quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Meu caro livro

Desenho de um livro feito por minha filha Luíse de 4 anos.


Listri, Pier Francesco. Veneza - Florença - Nápoles - Roma e a Cidade do Vaticano - Civilização, Arte e História, Ed. Ats italia Editrice; Editrice Giuste; Kina Italia, 1997.


Uma crônica* inspirada na aquisição do livro acima que foi utilizado como fonte de pesquisa para os dois posts anteriores.
   Este livro comprei na Itália em 2005. Quando vi o preço foi inevitável, me lembro: 8 euros. Na época o euro valia em torno de R$ 3,00, portanto, R$ 24,00. Voltando ao Brasil, pesquisei livro semelhante de história da arte: em seleção de cor, fotos em todas as páginas, papel couchet (encerado-brilhoso), e edição com acabamento bom custava em torno de R$ 145,00. Na Europa também encontrei um livro do Oscar Wilde a 3 euros..., repetindo: 3 euros. É certo, uma edição econômica em papel jornal, mas não era pocket e tinha capa colorida e fotos no miolo.


Raffo, Silvio &  di Chiavarelli, Lucio. 
Wilde - Tutti i raconti, Ed. Biblioteca Economica Newton, 1997.

   Hoje, um semelhante ao primeiro livro, aqui nas livrarias do Rio Grande do Sul, não custa menos que uns R$ 170,00 - nessa qualidade gráfica. No que recorro, seguidas vezes, aos sebos (livrarias de livros usados), que aqui em Porto Alegre têm oportunidades imperdíveis. Onde muitas vezes se encontram livros novos, em sobras de lotes de editoras, portanto é só ficar esperta.



   
   Quando fui em abril do ano passado em Buenos Aires, na 37a. Feira do Livro, encontrei Galeano, em torno de R$ 25,00; Shakespeare a R$ 6,00. Mesmo considerando que nas feiras de livro os preços são promocionais, pois a venda é direta das editoras, nas livrarias havia oportunidades parecidas.
   Agora pergunto, por que os livros são tão caros aqui no Brasil? 
   Neste país, onde a relação: nível intelectual/nível econômico, na maioria das vezes é inversamente proporcional. Onde a classe dos professores, profissionais estes que prioritariamente devem estar bem-informados e atualizados, possuem salários achatados, como fazer o up grade das informações necessárias para discorrer em sala de aula? Onde outros profissionais como os designers gráficos, no que me incluo, necessitamos ver e rever com frequência as publicações de tendências estéticas no mundo (novos conceitos, escolas, referências), quando nem sempre recorrer à internet se faz um caminho acertado, já que a própria tela do computador limita uma análise da informação, do estímulo imaginético. Como fazer para adquirir livros para fonte de pesquisa?
   Brasil, país onde as pessoas preferem comprar roupas a livros, deixar a televisão ligada na sala, ao invés de conversar com as visitas que estão no sofá. Ler parece mesmo que não está nos planos da maioria. E ainda com esses preços, onde o problema pode estar na cadeia: gráfica – editora – distribuidora – livraria – consumidor final. Que de forma “mágica” o preço vai engordando como se frequentasse um buffet livre a cada parte do processo.
   Causa-me indignação o preço dos livros. Causa-me indignação supor que mesmo que esse custo baixasse, o brasileiro em geral não o colocaria na sua lista de compras. Causa-me indignação escrever e escrever, num país que não lê.
   Os espaços virtuais mostram-se alternativa poderosa, é fato. Atalho onde encontrar esse leitor ainda ávido por um complemento de vida. E para quem escreve, uma oportunidade de publicação, de alongar as fronteiras do pensamento e da interação, num mundo cada vez mais restrito entre o que não se lê e o que pensa que se lê. Assim ficamos, como um prenúncio de um futuro que está bem próximo. Uma continuação das letras que nos formam, nos fazem mais humanos na ânsia de transcrever um universo ou ser um deles.


* Crônica publicada nos jornais: 
Jornal do Comércio (Porto Alegre), Diário Popular (Pelotas), 
Diário de Viamão, Correio de Gravataí, Correio Rural (Viamão), 
VS (São Leopoldo).