sábado, 15 de dezembro de 2012

Fim-começo do nosso mundo!

    
Charge de autoria de Jaime Guimarães
- para visualizar melhor, clique na imagem -
   
   Segundo a cosmologia maia a Terra tem cinco ciclos, estaríamos nos último que culminaria no dia 21 de dezembro. Para o autor de “Maya Cosmogenese”, John Jenkins, a profecia maia baseia-se num emparelhamento astronômico muito raro, onde o sol de solstício se alinhará com o centro da nossa galáxia, e isso, somado ao fenômeno da precessão: uma mudança do eixo da Terra em relação à esfera celeste.
   A partir desse estudo, surgiram previsões para o fim do mundo nessa data, onde haveria a inversão dos polos da Terra devido a distúrbios nos campos magnéticos do sol, que ocasionariam “tormentas solares”.
   Muito tem se comentado sobre isso, assim como, se o mundo tivesse uma data específica para seu fim, como poderíamos aproveitar esse tempo derradeiro.
   Recordei-me do intenso filme da diretora Isabel Coixet, de 2003, que chegou aqui no Brasil com o título de “Minha vida sem mim”, onde uma jovem de 23 anos, sabendo-se portadora de doença terminal, faz uma lista de tudo que ainda quer realizar, coisas que sempre desejou, mas nunca lhe foram possíveis.
   Interessante como o ser humano parece ter isso intrínseco: colocar a tranca na porta somente depois que o ladrão invadiu a casa. A vida é breve, pensando assim, toda hora é tempo de realizar sem esperas. Independente de quando e se o mundo vai acabar mesmo, a vida é um ser/estar aqui e agora.
   O que você colocaria na lista de coisas ainda a realizar? 
   Na iminência ou não de um apocalipse, isso não seria a preparação para o fim, e, sim, a proposta de uma gênese pessoal, uma espécie de auto descobrimento. Ao descobrirmos o que nos realizaria, assim se faria nossa realização.
   Penso que concretizar isso, constitui nosso Ser-feliz, e a felicidade pessoal pode estar tão perto, como dizia Quintana, em “Da felicidade”: “Quantas vezes a gente, em busca da ventura, procede tal e qual o avozinho infeliz: em vão, por toda parte, os óculos procura, tendo-os na ponta do nariz.”.
   A felicidade pode ser matemática simples: a cada coisa que se faça por obrigação, se permitir fazer duas por opção, que seja comer um croissant recheado de doce de leite.
   Além disso, a realização é o que nos eterniza, e mesmo que supostamente o planeta findasse teríamos sido felizes, mais do que tristes e frustrados. E isso não é tudo que desejamos? Buum!

Crônica publicada nos jornais: NH (Novo Hamburgo), Gazeta do Sul (Santa Cruz do Sul), 
Diário Popular (Pelotas), Diário de Cachoeirinha, Diário de Viamão e Correio de Gravataí.


Senza fine - Ornella Vanoni


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Pessoal, agradeço imenso pela companhia de todos neste ano! 
Desejo ótimas festas a vocês e suas famílias, 
e um próximo ano cheio de boas realizações. 
Que qualquer dificuldade, seja bem pequenina, sinceramente.




Um abraço grande a todos, nos vemos em 2013!

sábado, 8 de dezembro de 2012

Vo-voar é para pa-pássaro

Desenho de autoria da minha filha Luíse de 5 anos.

   Contam que um instrutor de voo que era gago falava com certa frequência: “vo-voar é para pa-pássaro”. Nunca con-concordei tanto com a-a-algo.
   Quem tem ‘respeito’ por avião tem certeza que voar é para pássaro. Na eminência de pegar um voo direto Porto Alegre-Lisboa no último dia 4 de outubro, para driblar esse ‘respeito’, comprei um colar com círculos de todos os tamanhos, logo pensei que na hora de decolar poderia ser boa estratégia para despistar meu inimigo interior, se ficasse contando as bolinhas, mas enquanto aquela coisa subia nem me lembrei se tinha pescoço, quanto mais colar.
   Dias antes, visitando amigos, um recomendou-me tomar um remedinho “você dorme e só acorda quando chega lá”, logo descartei isso, pois dizem que tudo que ingerimos tem o efeito dobrado lá no ar... humm.... pressão baixa, medo, e remedinho vezes dois? O outro amigo disse que eu não me importasse, porque se acontecer algo é tudo muito rápido... (rápido?... O quê?), foi quando marido assinalou com a fala definitiva: “Ana tu não vai acabar assim”, (mas existia essa possibilidade de... de...? SOCORRO!).
   É entrar no avião e começa a seção tortura: livrinho com ilustrações de “o que fazer em caso de emergência”, com bonequinhos sorridentes, - se as companhias aéreas fossem francas, seria um livro em branco. “Cairão máscaras de oxigênio”, “embaixo da poltrona você encontrará o colete salva-vidas”... (SOCORRO!)
   Nessa hora todas as frases clichês do tipo: “você tem que enfrentar seus medos”, parecem clichê em dobro, talvez efeito dos pés de altura. E ainda mais o voo teria 10h45 de duração, simmmm... significa ter medo de uma coisa e ter que ficar dentro dessa coisa todo esse tempo: o regulamentar, mais prorrogação e pênaltis.
   Entre decolar e até o avião emparelhar, se é que aquilo emparelha, tenho vertigem e descobri que existe um cardápio delas – vertigens para frente, para os lados..., e nada de sentir minha fisgadinha da sorte no joelho. Pois tenho há muitos anos “uma lesão no ligamento cruzado do joelho direito” – foi assim que o ortopedista se referiu. Não sei por que, mas toda vez que sinto a dorzinha da lesão acontece algo bom, mas nada de senti-la... Depois de algumas horas de voo, ela começou. Aleluia! Para comemorar, levantei-me – sim eu caminhei no avião! – e me dirigi aos fundos para pegar um copo de suco ‘natural’ de laranja.
   O que me impressiona é como dormem dentro daquilo, tinha um sujeito atrás de mim que roncava! Será que tomou o remedinho? Lembrei-me de algumas milongas preferidas, esse ritmo dos pampas que sempre me acalma, e arrisquei ir ao toillet, foi quando descobri que não sentia medo dentro do banheiro do avião, por quê? E tornei-me assídua frequentadora.
   Nunca entendi também porque as turbulências se intensificam na hora da refeição. Será que só eu percebo isso? Mas..., não comer a sobremesa no último jantar do Titanic pode não ter sido a opção certa. Então, minha comida sumiu rapidinho.
   Durante o voo, não consegui assistir ao filme ‘El cuento chino’, com meu ator preferido Ricardo Darín, não me concentrei, - perdón, Darín. Então deixei no desenho dos Flintstone, e o “Yaba Daba Dooo” funcionou! Digamos..., mais de duzentas vezes.
   E finalmente o comandante anunciou os procedimentos de aterrissagem. De novo esqueci de contar as bolinhas do meu colar, mas me agarrei ao golfinho de pelúcia que minha filha levava, até ouvir o ruído do ‘puf’. Estamos em terra firme, é a glória do puf! Além disso, a certeza de que se vo-voar é para pa-pássaro, viver é para todos nós.
   Por terra, mar ou ar, nos agarremos às oportunidades sem pensar se serão únicas, porque tentar viver vale mais que muitos me-medos. Boa viagem!

Durante o voo, tentando disfarçar o me-medo,
enquanto um sujeito lá atrás dormia e ainda com a janela aberta (SOCORRO!)

Iahuuuu! Chegada no aeroporto de Lisboa! 
Viva à Terra-Mãe!
Recompensa: sentir a liberdade ao lado de um penhasco em Zambujeira do Mar,
ali, pertinho do céu!
Nem me lembrei que tenho medo de altura.

No penúltimo dia, em Cabo da Roca, ponto mais ocidental da Europa,
foi quando me dei conta que não poderia regressar nadando...

Sugestão de música para tranquilizar - milonga uruguaia para a alma.

Amargo de caña - Ana Prada

sábado, 1 de dezembro de 2012

Garçom brega ou chique



   O cantor e compositor gaúcho Filipe Catto, um dos expoentes da nova geração da MPB, disse num programa de TV que não existe música brega. Para ele há apenas duas classificações de música, a que o comove e a que não o comove. Ousado, gravou em seu primeiro CD, “Garçom”, de Reginaldo Rossi, um dos ícones do chamado brega nacional.
   Concordo com Filipe, pois penso que a arte verdadeira se funda além-fronteiras, é democrática, rompe paradigmas: ela própria é o alicerce da vanguarda e abre novas possibilidades.
   Quando Andre Rieu, famoso regente e violinista holandês, conhecido como “embaixador das valsas”, veio ao Brasil, causou certo alvoroço no meio dito intelectual ao apresentar com arranjo erudito a música “Ai se eu te pego”, popularizada na voz de Michel Teló. Para além de um possível jogo de marketing, creio que Andre acertou na dose a proposta do que seja arte, ao transcender o preconceito e o transformar em música acessível, agradável e impecável.
   Não entrando aqui nos deméritos do lixo cultural, pois existem ruídos que sequer podem ser chamados de música; mas o que é brega ou não, talvez não tenha tanta importância mesmo. Impossível não reconhecer poesia, por exemplo, na música “Fio de cabelo”, da dupla sertaneja Chitãozinho e Xororó, onde um fio de cabelo comprido da amada encontrado no paletó “é um pedacinho dela que existe”, que sacramenta o amor vivido. É a síntese da perda, do desamor, da falta.
   Outro exemplo, na música “Sabanas frías”, do grupo mexicano Maná, a expressão “quisera viver, amor, amarrado a teus ossos”, pode parecer piegas ou de uma dramaticidade exagerada se compreendermos apenas a imagem literal, porém, se abstrairmos e pensarmos em existência, talvez não seja. Nessa ou em tantas músicas, as possibilidades estão abertas a vereditos, interpretações, mas também podem transcender a quem se comover com elas, e neste momento, estará se cumprindo a arte por excelência.
   Saber conviver e estar disponível à harmonia com o diferente, aberto às possibilidades da arte, às pessoas, à vida, isso é ser elegante. É pedir ao garçom uma cerveja, se é o que você quer beber; e não Veuve Clicquot apenas para impressionar. Eis a lição para nossa vida da música como arte: transcender-se, simplesmente.


 Garçom - interpretação de Filipe Catto

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   Pessoal, o blog completou dois anos no dia 18 de novembro. Agradeço imensamente a todos que fazem parte dessa história, acompanhando com a leitura, comentários e toda interação possível dentro dessa magia chamada blogosfera. Agradeço também aos amigos que fizeram parceria literária comigo, com certeza cresci muito com esses diálogos.
   A partir de agora, as postagens serão esporádicas, mas sempre preparadas com todo o carinho. Também decidi manter o nome de origem: Humor em Conto, apesar de que os textos serão bem variados, mas fieis a marca que sempre os caracterizou.
   Um abraço do tamanho do mundo para vocês!