segunda-feira, 26 de março de 2012

Futebol em família


   Complicada algumas situações que temos que enfrentar em família. Na minha, todos são apaixonados por futebol e o que poderia ser mais um laço de afinidade, tornou-se verdadeiro tormento para mim.
   Eu torço para o grande tricolor Grêmio Foot-ball Porto-alegrense (!!!); mas o Pedro, meu marido, e a Bel, minha irmã, são fanáticos pelo arqui-rival, o time dos vermelhos, um tal de Sport Club Internacional. É se encontrarem e começam com os blá-blá-blás, e falam de um tal de Damião, Damiãoooo? O que é isso? Até lembrou-me o “Damien” personagem do filme “A Profecia”. Deve ser carma, sina, ou sei lá o quê.
   Quando nasceu a nossa filha Luíse, a bebê foi logo sendo assediada e começou a analisar as propostas. Mais recente, afirmou, no que julgo uma saída altamente diplomática: “sou do Juventude”. O Esporte Clube Juventude é um time da cidade serrana gaúcha de Caxias do Sul, cujo uniforme é verde. Ufa! Por essa escapei, por enquanto. Com qualquer porcentagem de sangue uruguaio nas veias, a pequena Luíse me lembrou do Gardel, que em minha opinião, deu a resposta mais diplomática de todo show business, ao perguntarem se ele era uruguaio ou argentino: “Sou argentino desde os 2 anos de idade”. (sobre isso farei um post ambientado no Museu de Gardel, em Tacuarembó)
   Mas voltando a partida, ou melhor, ao assunto. O mais curioso aconteceu a umas duas semanas atrás - quando estávamos passando um fim de semana na praia de Tramandaí, aqui no Rio Grande do Sul -, e o Pedro encontrou um caneco do tal time dos vermelhos... onde? Na beira do mar? Ali mesmo, jogado de qualquer jeito. Logo pensei, um caneco do meu Imortal Grêmio nunca estaria jogado no mar, assim, abandonado o pobre. E não é que ele juntou a “coisa” para dar de presente a cunhada querida?
   Na segunda-feira tive a triste e difícil missão de transportar o “objeto” para a minha irmã. Ora essa! Tudo bem... fair play... Procurei em casa um daqueles saco-bolha, ou algo que garantisse  a chegada intacta do “santo graal” ao seu destino. Sim, porque vá lá que o tal caneco quebrasse, seria culpa da gremista. Tive que levá-lo no banco do carona, sentadinho e ainda olhando para mim.
   - Fica quieto aí senhor caneco! – eu disse – Não vai cair.
   E aquela coisinha de vidro ficava rindo de mim...hi-hi-hi!
   Tive que dirigir devagaaaaar e com cuidado. Ao chegar ao destino, fui logo entregando o presente para a Bel. Ficou contente minha mana, aí valeu tudo. Bem, pelo menos é melhor que o tal caneco fique lá na casa dela do que na minha.


Dedico este post a todos apaixonados por futebol.
E também pela paz entre as torcidas nos estádios e fora deles.

quinta-feira, 8 de março de 2012

A dor e a delícia de ser mulher


   
   Sempre tive vontade de fazer uma tatuagem, mas adiei por anos. Quando finalmente me animei, já na sala de espera, falei que estava com muito medo da dor. Um garotão que aguardava para colocar um piercing me disse:
   - Você é mulher, vai aguentar a dor.
   Sábio garoto, concordo totalmente. Nós mulheres temos uma estranha mania de aguentar as dores do mundo. Como a representação de Maria, em Magnificat? Talvez.
   Quando estava na sala de parto, a anestesista me perguntava a todo instante qual porcentagem de dor sentia, para verificar o efeito da peridural. Passei, a partir dali a quantificar as dores, e não são poucas que nós mulheres sentimos.
   Dor menstrual: da primeira, menarca; da ausência, menopausa. A dor da falta de um  telefonema de quem gostamos: "será que o cara leva um choque nos dedos toda vez que digita o meu número: 32...?" - pensei na adolescência -, e essa dor foi para mim, de quase 100%. A dor da injustiça, quando o colega que trabalhava só meio turno, ganhava o dobro do meu salário que trabalhava full time, e tinhamos currículo e tempo de serviço semelhante. A dor de um fim de relacionamento, da troca, da incompreensão.
   Talvez por essas coisas da natureza, nós mulheres temos a inteligência intuitiva bem desenvolvida que nos permite sentir mais dores, mas também percebermos detalhes com nitidez.
   É certo que somos de fases, e isso ás vezes é incompreensível até para nós mesmas. Em um único mês somos várias, e a dor em nós muda de intensidade. Tem semana que me sinto a Escrava Isaura; em outra sou a Mulher Maravilha; dias em que parece que ouço e vejo melhor, a própria Biônica; e em outros uma  Barbie pateta que não sabe nem somar um mais um, hã? Coisa da dança de hormônios, quem sabe?
   Mas para não parecer que este texto é um mero manifesto feminista, ou coisa que o valha, vou citar a contribuição de alguns homens em minha vida, por exemplo, o meu escritor preferido Oscar Wilde, que em plena Irlanda do século 19 me sai com essa frase: "Permitam às mulheres as mesmas condições e elas conquistarão o mundo"; ou de outro Oscar, meu pai, agora o velho Rodrigues, que me ensinou a vencer tudo com um simples sorriso, tal e qual o ser transcendente do simbolista Cruz e Souza: "ficar sereno num sorriso justo, enquanto tudo em derredor oscila".
   Uma coisa é certa, a intuição nos deve vir a favor. Temos essa impressionante capacidade de reverter as dores, e transformá-las em prazer e humor, mesmo que não saibamos disso.
   Aconselho amigas, a nunca chorarem mais que cinco minutos por seja lá o que for. No dia seguinte, incríveis bolsinhas de água vão se alojar embaixo de seus olhos. Quando chegarem ao emprego, na aula, na casa de um amigo vão ter que dar algumas desculpas do tipo: "estou me gripando", ou, "a insônia foi terrível essa noite". Faço assim, se começo a chorar já cronometro: 4.59, 5.00, acabou. Olho para o espelho e tento sorrir. Até bom que o lábio fique todo torto, vai ser engraçado, aí vocês vão rir mesmo. Uma vez sorrindo, é incrível, mas começam a mudar as coisas. Rir de nós mesmos, ou da situação, transforma tudo em humor, e o bom humor vence tudo.
   Podemos transformar até a pior dor em momentos bons de lembrança, por exemplo. Ou quando acabamos o relacionamento com aquele cara, podemos pensar que mandamos o tal palhaço de volta para seu circo, e que vá procurar sua turma em outro picadeiro, e isso será humor.
   Mesmo que estivermos por dentro como gelos despedaçados, um simples riso para nós mesmas é possível. Somos mulheres, temos essa capacidade, e a principal de todas, de percebermos coisas nos detalhes, como a simples intenção de uma alegria furtiva que pode por fim resgatar a maior de todas: nossa dignidade.

Dedico às mulheres do mundo.


*Agradecimentos a: Paulo Cheng, André Mansim, Dilso Santos, Bel Rodrigues, Jaynne Santos, Nani Oliveira, Almir Ferreira, Roseane Silva, Pedro Costa, Jim Carbonera, Jozy, 
Victor Von Serran e Jacques Beduhn. E mais recente: Joicy Sorcière e Luciana Santa Rita.


Crônica publicada nos jornais: Jornal do Comércio (Porto Alegre), Correio de Gravataí,
Diário de Viamão, NH (Novo Hamburgo), VS (São Leopoldo), 
Diário de Cachoerinha e Correio Rural (Viamão).


Na internet, também nos sites: SECHSPA, AOERGS, SIMCA e 
ASSOCIAÇÃO DOS JORNAIS DO INTERIOR DE SANTA CATARINA.