domingo, 31 de julho de 2011

Fruto amargo

   Esta crônica* fiz algumas horas depois de dar a Oficina Poética para a turma do Jardim de Infância de minha filha Luíse, (garotos de 4 e 5 anos). Fiquei feliz, pois a interação com as crianças foi ótima, mas ao mesmo tempo refleti sobre o que espera minha filha, esses meninos e toda geração que viverá e comandará este país no futuro. 
   Uma pequena pausa nas histórias do condomínio, para esta reflexão.

   “Corruptinho quando nasce, se esparrama pelo chão; feito sementinha, depois cresce, coloca a mão num dinheirão.” 
   Poderia ser apenas uma paródia de um poema infantil, mas infelizmente reflete a realidade política brasileira. A plantinha da corrupção é a que mais está frutificando na sociedade do nosso País: o uso ilegal do poder político e financeiro por parte de governantes, funcionários públicos e agentes privados, com o objetivo de transferir renda pública ou privada de maneira criminosa para alguns indivíduos ou grupos ligados por laços de interesses, é o que mais está sendo cultivado em nossa horta.
   Esse benefício exclusivo, o uso do poder estabelecido no jogo político para realizar atos ilegais contra a nossa sociedade, entre outros – suborno, nepotismo, proveito de fundos públicos de maneira não prevista na lei –, vai produzindo um fruto amargo a ser colhido. 
   Esse fruto é amargo, pois provoca distorções econômicas no setor público ao direcionar investimentos de áreas básicas como saúde, educação, segurança, alimentação para outros projetos, interesses e bolsos. Isso se reflete na sociedade com o aumento dos níveis de cobrança de impostos, taxas e tributos. Essa iguaria de proporções infinitas é degustada diariamente pelos brasileiros quando necessitam usar essa infraestrutura pública, precária ou quase inexistente, em muitos casos, ou adquirir um bem ou serviço.
   A certeza da impunidade no Brasil é o grande adubo nessa horta da corrupção.
   Hoje, com o advento de novas tecnologias, internet, fotografia por celular, mais casos são descobertos e aparecem na mídia. Mas em contrapartida silêncio, cobertura de governantes, passividade e continuidade dessa colheita de maus frutos, que parece proliferar sem controle.
   A separação do joio e do trigo cada vez fica mais parecida com o dito popular “encontrar agulha no palheiro”. Achar os trigos no meio dessa plantação de joio não parece tarefa muito fácil. Vide quando temos que exercer nosso direito do voto. 
   Sem muito o que fazer como cidadãos, nos resta, quem sabe, sonhar com ainda recitar aos nossos filhos ou netos: “Brasileirinho quando nasce põe a mão no coração;  homem feito quando cresce,  tem orgulho de sua Nação”.

*Crônica publicada nos jornais:  
Jornal NH (Novo Hamburgo); Gazeta do Sul (Santa Cruz do Sul); 
Diário Popular (Pelotas); Jornal VS (São Leopoldo); 
Correio de Gravataí (Gravataí); Diário de Viamão (Viamão); 
Diário de Cachoeirinha (Cachoeirinha) e Correio Rural (Viamão).

domingo, 24 de julho de 2011

O Mano e a Mina


Uma pequena pausa nas histórias do condomínio, para esta crônica* 
que fiz em função da desclassificação da 
Seleção Brasileira de Futebol desta Copa América. 

   O Brasil foi desclassificado na Copa América. Fomos eliminados nas quartas de final contra o Paraguai nos pênaltis, depois de dois tempos de prorrogação, sem sequer fazer um gol. Julgada por especialistas como nossa melhor atuação, faltaram finalizações efetivas nessa partida que bem refletiu a situação do futebol brasileiro atual.
   Mano Menezes, técnico da Seleção
 Brasileira nessa Copa – com sede na Argentina –, tem suas credenciais indiscutíveis. Entre suas façanhas, recolocou o Grêmio na Série A do Campeonato Brasileiro ao conquistar o título da Série B em 2005, no episódio conhecido como “A Batalha dos Aflitos”. E foi técnico por dois anos do Corinthians, tirando-o da série B do Campeonato Brasileiro, tornando-o campeão paulista e da Copa Brasil de 2009.
   Não é de hoje que o futebol mundial transformou-
se numa Mina de Ouro: contratos milionários, publicidade, transmissões nas grandes redes de TV. O garoto pobre do interior ou dos subúrbios, muito jovem, alguns com 19 anos como Neymar, torna-se milionário.
   A partida de nossa desclassificação bem mostrou isso. Por um lado, um bom técnico, experiente, qualificado; de outro, um time apático, desfrutando do “repouso do guerreiro”, dependendo de talentos isolados ou da sorte que não veio.
   Saudades de assistir ao futebol de raça na Seleção Brasileira. Daquele jogador que corre atrás da bola como quem está faminto e deseja uma boa refeição; mas o que se viu foi uma sopa de letrinhas das estrelas: “R”, de Robinho; “P”, de Pato; “G”, de Ganso, “N”, de Neymar.
   Com bravura foi a derrota da Argentina, a dona da casa, criando situações ofensivas contra a Celeste uruguaia, que com determinação e raça charrua venceu nos pênaltis. Partida muito disputada, lembrando a do “Maracanazo”, que infelizmente perdemos, por coincidência no mesmo 16 de julho, mas de 1950, na Copa do Mundo sediada no Brasil.
   Por incrível que pareça, felizes são os Manos Menezes, técnicos de pequenos times do interior do nosso País, que mesmo com dificuldades financeiras e de infraestrutura, têm em seu plantel alguns garotos talentosos que ainda não conhecem a tal Mina de Ouro. Que exploram o campo, como se território mágico fosse. Correm atrás da bola, como atrás da musa dos sonhos; e a chutam como seu maior inimigo, criando um incrível espetáculo de resultados positivos aos nossos olhos. As maravilhas do esporte mais popular do País, do verdadeiro futebol.

* Crônica publicada nos jornais:
O Dia (Rio de Janeiro); 
Gazeta do Sul (Santa Cruz do Sul); Diário Popular (Pelotas); 
Jornal NH (Novo Hamburgo); Jornal VS (São Leopoldo); 
Correio Rural (Viamão); Diário de Cachoeirinha (Cachoeirinha);
 Correio de Gravataí (Gravataí) e Diário de Viamão (Viamão).

Agradeço aos amigos que comentaram no site do Diário Popular. 
A atenção de vocês é fundamental para o meu trabalho.


Hoje, dia 25 de julho, foi publicada esta crônica, no Rio  de Janeiro, no jornal O Dia. Pela primeira vez, consegui publicar fora do estado do RS!
http://odia.terra.com.br/portal/opiniao/html/2011/7/ana_cecilia_romeu_o_mano_e_a_mina_179932.html

quinta-feira, 14 de julho de 2011

De volta a Porto Alegre

   
    Saindo de Buenos Aires, voltei para Porto Alegre, capital do Rio Grande do Sul, estado mais ao sul do Brasil, cidade com aproximadamente um milhão e trezentos mil habitantes, e onde nasci.
   Estranha ligação que qualquer pessoa tem com o local em que nasceu, mesmo que não more mais lá, que é meu caso, mas ficamos com um fio de Ariadne, invisível que nos orienta.

Hospital Moinhos de Vento, onde nasci.
Igreja católica Nsa. Sra. Auxiliadora,
participei do grupo de jovens daqui,
discussões importantes para a formação social e política.
Parque Moinhos de Vento,
conhecido como Parcão.
Rua Gonçalo de Carvalho.
Porto Alegre é uma das
cidades mais arborizadas do país.

Sede antiga dos Correios.
Museu de Artes do Rio Grande do Sul.
Catedral Metropolitana de Porto Alegre.

Avenida Júlio de Castilhos. À direita, Mercado Público;
à esquerda, Palácio do Comércio.
   Porto Alegre reflete a alma gaúcha com perfeição. Nos antepassados, a revolução de 1923: Chimangos ou Maragatos. Na política: esquerda ou direita. No futebol: Grêmio ou Inter.

Teatro São Pedro.




Palácio do Governo do estado do Rio Grande do Sul.
Estádio do Sport Club Internacional.

Usina do Gasômetro.
Hoje, local de exposições, oficinas artísticas e montagens teatrais
.
Cais do Porto.
Estádio do Grêmio Foot-Ball Portoalegrense. (!!!)
   Quem nasceu por aqui, sabe muito bem o que quer e o que não quer, apareceu nesse mundo numa cidade que é preta ou branca, com poucos meios tons que sempre têm contraste definido. Talvez por isso fale, teorize, argumente até chegar ao ponto final, que sempre parece distante. Grande esporte praticado por portoalegrenses, a troca de ideias, que até pode se transformar em verdadeira peleia.
   Porto Alegre, cidade dos encantos do poeta gaúcho Mário Quintana, nascido no Alegrete, o maior poeta brasileiro de todos os tempos, em minha opinião. Muitos testemunharam suas caminhadas pela rua dos Andradas, conhecida como Rua da Praia, fechada aos automóveis, onde as pessoas podem circular livremente. Dizem que ele parava e observava os prédios, ou olhava para o chão concentrado. O certo era não interromper o poeta. E assim foram fecundados muitos de seus poemas.

Antigo Hotel Majestic,
onde residia Quintana...

   


...hoje, Casa de Cultura Mário Quintana.
   Porto Alegre, um dos antigos nomes: Porto dos Casais. Homenagem à chegada de casais açorianos em meados do século XVIII. Nestas terras que tem um lago que chamam rio, uma alma disso ou daquilo, e talvez o por do sol mais lindo do mundo. Será? Para quem nasceu aqui, sim!


   Quando o sol briga para pousar no rio Guaíba, este cede depois de muito diálogo para formar um dos maiores espetáculos da natureza. Nesse momento, se o Porto não era Alegre, ele se transforma, se reinventa, na cidade de Porto Alegre.



O Mapa
Mário Quintana*

Olho o mapa da cidade
Como quem examinasse
A anatomia de um corpo...
(É nem que fosse meu corpo!)
Sinto uma dor esquisita
Das ruas de Porto Alegre
Onde jamais passarei...
Há tanta esquina esquisita
Tanta nuança de paredes
Há tanta moça bonita
Nas ruas que não andei
(E há uma rua encantada
Que nem em sonhos sonhei...)
Quando eu for, um dia desses,
Poeira ou folha levada
No vento da madrugada,
Serei um pouco do nada
Invisível, delicioso
Que faz com que o teu ar
Pareça mais um olhar
Suave mistério amoroso
Cidade de meu andar
(Deste já tão longo andar!)
E talvez de meu repouso...

* Nascido em Alegrete no dia 30 de julho de 1906.
Saiu de Porto Alegre em 5 de maio de 1994, para a festa do Céu.

Dedico ao poeta maior, Mário Quintana.

terça-feira, 5 de julho de 2011

Bons ares de Buenos Aires

Bairro de Puerto Madero, às margens de Mar del Plata.
Foto de Isabel Rodrigues.

   Última madrugada em Buenos Aires, antes de retornar a Porto Alegre. Fiquei pensando no que um colega meu de francês, senhor José Ferreira, pessoa que respeito muito, me disse certa vez: “a melhor coisa do mundo é viajar, a segunda melhor é voltar para casa”.
   Fazendo ou não uma leitura mais ampla desta expressão, a verdade é que viajar a Buenos Aires é maravilhoso. Não significa claro, que eu torça para a Argentina na Copa América ou que considere o famoso gol do Maradona como “la mano de Dios”; ou ainda pense que o nosso gol, que aqui na Argentina chamam por “la mano de Túlio”, não seja uma mãozinha de Deus..., mas fora as rixas no futebol, esta cidade tem muitos encantos.
   O encanto de uma capital federal que tem livrarias e cafeterias abertas 24h. Restaurantes tradicionais com comida típica, ou culinária internacional variada, em pleno funcionamento noturno. Onde no inverno, que por hoje faz algo em torno de dois graus, senhoras com seus casacos charmosos circulam no centro com segurança pela madrugada.
   Buenos Aires ainda tem a Avenida Corrientes, a pequena Broadway, com suas montagens teatrais, algumas atravessam a noite.
   Capital da diversidade, não escolhe sexo ou diversão. Cosmopolita, aceita diferentes idiomas. Boêmia: espetáculos noturnos variados.
   Rock, new age, techno, pop, ou o famoso tango. Esse último, nas casas de espetáculos; ou para quem quiser se aventurar numa dança ou assistir ao  cidadão que de manhã lhe deu “buen dia”, se transformar em bailarino famoso, existem diversos estabelecimentos noturnos, onde na parte térrea funciona o bar, e em seus porões, genuínas casas de tango. Alí não se vê o estilizado e, sim, o tango de origem: a dança dos cabarés.
   Antes de retornar ao hotel, ainda podemos arriscar alguns passos na esplanada do Obelisco, localizada bem no centro da avenida mais larga do mundo: a 9 de Julio. Imaginem a sensação de automóveis por todos os lados, uma dança bem acompanhados e ao som imaginário de Piazzolla, na noite gelada e o luar como testemunha...

Famoso Obelisco, de madrugada.
Foto de Isabel Rodrigues.

   Ou na sequência deste gran final, ouvir o uruguaio mais argentino de todos. Ainda hoje, quem propaga a paixão do tango: o tapa e o beijo, em sua expressão máxima. Quem nos eleva os bons e distintos ares de Buenos Aires a um sopro de vida em nosso pequeno coração: Carlos Gardel, “la voz de Dios”.


Crônica publicada nos jornais:
Gazeta do Sul (Santa Cruz do Sul); Diário Popular (Pelotas);
Correio Rural  (Viamão); VS (São Leopoldo) e Correio de Gravataí.

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Do virtual ao real - 1: Eu e Jim Carbonera

   
   Noite chuvosa em Porto Alegre, capital do estado do Rio Grande do Sul, dia 23 de junho, feriado de Corpus Christi. O cenário não seria perfeito se não fosse pelo fato de que encontrei pela primeira vez, pessoalmente, um amigo da blogosfera: Jim Carbonera.
   Conheci meu amigo Jim, virtualmente em fevereiro, através do blog de outra amiga muito especial, a T. S. Frank (Café quente & Sherlock). Percebi ali, um cara que comentava de forma inteligente, autêntica, direta e livre. E assim é ele pessoalmente, boa gente, amigão e muito talentoso. O que pude conferir nesse dia 23, que foi o lançamento de seu primeiro livro: Divina Sujeira.


   O livro de contos do Jim, Divina Sujeira, em minha opinião, é resultado de um trabalho muito original, sem amarras ou hipocrisias. A obra promete dizer, e diz! Fruto de um tanto de criatividade que surpreende o leitor, quase como um soco sem dor; e ao mesmo tempo hipnotiza a gente, de um jeito distinto, assim como ele é. Um cara diferente, talentoso e todo especial.


   
   Para ti Jim, meu caro amigo escritor, muito sucesso na tua vida e no teu trabalho literário!
   E para vocês, amigos da blogosfera, o Jim foi o primeiro. Pretendo ainda conhecer no plano real muitos de vocês. Afinal, só é impossível aos olhos, o que nos é impossível ao coração.
   Sorte a todos!


Para adquirir o livro Divina Sujeira:
No momento está à disposição apenas no site da editora Multifoco:
http://www.editoramultifoco.com.br/literatura-loja-detalhe.php?idLivro&idProduto=501  
Dentro de 20 a 30 dias também estará nas livrarias Cultura e livrarias Travessa. 

Contatos com Jim Carbonera:
twitter: twitter/jimcarbonera

Em breve, estará sendo finalizado o site:
Com informações sobre o autor, sua obra e seus rascunhos literários.