terça-feira, 27 de setembro de 2011

A Coisa


Desenho que minha filha Luíse, de 4 anos, fez da "Coisa".
   
   Este é um texto que fiz em parceria com o amigo Jacques Beduhn*

    Mulher olha para homem e diz:

   - Por que você só fala dessa Coisa?

    - Eu falo sempre nela porque... Porque ela é muito importante pra mim, oras.

   - Bem que percebi que era importante, estava dentro de sua pasta de trabalho - mulher diz irritada

   - Se a Coisa estava lá dentro, é porque eu achei que estaria bem guardada, mas vejo que me enganei. Mas que coisa, não?

   - Ora, não posso abrir sua pasta, por quê? O mais curioso é que, além dos teus relatórios de trabalho, as revistinhas do Asterix, tinha aquela Coisa que você leva para tudo quanto é lado!

    - Você não pode escarafunchar a minha pasta! Isso não é coisa que se faça! E não confunda minha literatura gráfica com "revistinhas". Uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa!  E eu levo aquela Coisa pra tudo quanto é lado, porque ela me dá sorte.

   - Então fica coisando essa Coisa por aí. E pelo visto não te dou sorte, você nunca me leva para lado algum.

   - Eu não te levo a lugar algum, porque você gosta de ficar em casa assistindo a novelas e outras... coisas... He, he... Desculpe, amor. Isso não é coisa que se diga, mas eu levo minha Coisa para onde eu quiser e ponto final!

   - Então é isso? Vou abrir tua pasta agora mesmo e tirar a Coisa lá de dentro! - mulher levantou-se e dirigiu-se à pasta que estava em cima da mesa

   - NÃO! Não faz uma coisa dessas! Você vai quebrá-la! Deixe que eu vou mocoisá-la, digo, mocozá-la em um lugar mais seguro... - homem pega a pasta antes da mulher

   - Moco..., o quê? - diz mulher - Você inventa cada coisa! Me dá essa Coisa aqui.

   Mulher puxa a pasta do homem, tentando pegá-la.

   - Ah, mas por que temos de brigar por algo tão... É sempre a mesma coisa. Passa pra cá! 

   Homem e mulher seguram a pasta ao mesmo tempo.

   - A Coisa é minha! - grita a mulher, puxando-a com muita força.

   A pasta cai ao chão e abre.

   - Aaaahhh... Olha só o que você fez! - gritou o homem em desespero.

   Crash!

* Fala da mulher: Ana Cecília Romeu 
  Fala do homem: Jacques Beduhn

No blog do Jacques, tem um final alternativo que ele criou ao texto.

sábado, 24 de setembro de 2011

O mico de cada um


   Rir da gente mesmo deveria ser necessidade diária. Algo do tipo, o sutiã para as mulheres, ou o óculos para o míope, ou...o que sempre uso nas viagens.
   Fui a pouco no blog da minha amiga Laize*, menina genial, com apenas 19 anos e já passou em cálculo 1, 2, 3, 4...500! rrrrr @#$%&  Mas execrou o uso da ..., o uso da... Tudo bem, eu conto: o uso da pochete.
   Sim, a pochete, essa mini bolsa de cinto, tão mal falada a pobre, comparada ao que tem de mais brega e cafona  (que a minha não ouça).
   Tudo bem..., confesso em público:

EU USEI POCHETE!

   Essa coisa de pagar mico, passar por um embaraço público, é complicado.
   E quem já não pagou um mico na vida, que atire o primeiro mico, ops! A primeira pochete. A primeira pedra?

   Prova do “crime” (em 2002):

Sim, sou eu. Sim, é Veneza. Sim, tenho na mão um sorvete italiano.
Sim, estou usando uma pochete.

Uma vestimenta mais esportiva para compor o visual!
Ficou brega, será?

   Pensem bem, alguém que sai de manhã do hotel para voltar somente à noite. E esse alguém ser míope, só a palavra “míope” já subentende que o sujeito tenha que carregar os seguintes itens:
1) Lentes de contato com estojo (mesmo que esteja usando as lentes, tem que levar o estojo)
2) Líquido para limpar as lentes
3) Óculos (se cansar das lentes)
4) Óculos de sombra sem lente de grau (se estiver usando lentes)
5) Óculos de sombra com lentes de grau (se estiver sem as lentes)
6) Colírio

Uma viagem longa para um lugar estranho, exige:
7) Mapa do local
8) Máquina fotográfica
9) Pequeno guia do idioma onde se está (caso não domine a língua e não queira morrer de fome)
10) Cartão com o endereço do hotel

Dependendo do sol:
11) Protetor solar

Se for mulher, precisará...(é tanta coisa que nem vou enumerar).

Como levar tudo isso?
   Quem disse “mochila”,ora..., ledo engano. Depois de caminhar horas, enfrentar fila de museu, fila de banheiro público, na loja de departamentos, no mercado e no supermercado, pegar ônibus, trem, metro..., tenham a certeza: mochila não é bom negócio. Ainda mais se você tem escoliose e todas “oses” na coluna, como eu.

   3 anos depois, (em 2005)...

   ...e a pochete cresceu, ganhou novas cores, e novamente, inseparável, minha grande amiga de viagem!



   Mas também é prudente o uso de alguma estratégia para ocultar a tão mal falada amiga:


    Ainda tem uma pochete que se usa embaixo da calça/saia. Oooh! Isso mesmo! Aqui no sul do Brasil, a chamam de “doleira”, mas fica livre se quiserem chamar de “eureira”, “realeira”, “peseira” (peseira ficou estranho), depende para onde se vai. Nela, coloca-se o $, travell check, passaporte, passe do trem, cartão de crédito, passagens, enfim... tudo aquilo que só levariam, caso levassem você junto, o que espero que não aconteça.
   Então, não se esqueçam: usem a pochete e boa viagem!

Doleira.


Desafio Humoremconto
   Desafio vocês a postarem em comentário algum mico que já pagaram, em viagem ou não.

Mas atenção:
   Só comente contando seu mico, quem concordar que seja publicado em post futuramente.

   No mês de novembro, o Humoremconto estará completando 1 aninho de idade, farei um post destes comentários, para rirmos todos juntos.

   Ou vocês acharam que eu ia pagar o mico sozinha?

   * Alors porquoi pas moi? – É o blog da Laize, no link:



terça-feira, 20 de setembro de 2011

Vida breve

Óleo sobre tela, sem título, pintada por meu pai em 1972.


   Uma homenagem ao meu pai, 
Oscar da Silva Rodrigues, 
no dia em que ele estaria de aniversário.

   Mesmo que alguém consiga a façanha de viver uns cem anos, isso ainda parece pouco. O ser humano deseja tanto e, como diz o clichê “o tempo voa”, o que é mesmo uma verdade, e nossa vida é breve.
   Há pouco eu estava brincando de amarelinha no pátio de casa, e agora minha filha faz o mesmo, em quatro anos de vida que passaram como se fossem quatro dias. E o tempo vai completando seus ciclos e trazendo consigo uma questão: como desejamos ser lembrados quando não estivermos mais aqui?
   Ser lembrado como o mau-humorado ou o sorridente? O poeta ou o fingidor?  Quem dizia ou se calava?  Quem lutava ou nem tentou? Quem se preocupava com os outros, ou alguém que vivia sob a proteção de si mesmo?
   Meu pai, entre outras lições que me recordo, era o tipo de pessoa que não fazia problema com as coisas, como é uma tendência muito comum, a de aumentarmos os desafios, fazendo com que um pequeno obstáculo pareça um muro de dois metros. Ele ensinou-me, sem dizer uma palavra a respeito, que temos que buscar as soluções para os problemas, o que não significa que sempre as encontraremos. Nunca o vi frustrado por conta disso. No lugar da derrota, aparecia um sorriso largo e mais projetos. 
  

Retrato de uma cena rural do Uruguai. Óleo sobre tela, de 1974.


Oléo sobre tela. Retrato de uma igreja na campanha do Uruguai, de 1974.
   
   As obras, o trabalho, nossos sonhos planejados, é o que nos movimenta, o que pode nos dar sentido. A projeção do que queremos e como poderemos contribuir um pouquinho para esse mundo, oferecendo o que sabemos, fruto de nossa vocação e de nossas aptidões, acabará por interagir com a vida de outras pessoas. Um pouco de nossa existência fora dela.  
   Quando temos um sonho ele deverá ter serventia a alguém além de nós mesmos.
   O ser humano projeta muitas coisas, tem expectativas mirabolantes e às vezes não dá valor ao que lhes parece tão pequeno. O sentido da existência poderá estar escondido na palavra colocada na hora certa, no respeito à natureza, aos animais, nas novas amizades e nas antigas, ao fazer a pergunta: “como estás?”.
   O simples ato de deixar alguém feliz ao mostrar que também estava e que perseguia essa felicidade, poderá valer uma vida toda. Assim, meu pai me ensinou: quantas eternidades se escondem numa única existência.




Para meu pai:
Oscar da Silva Rodrigues, 
nascido em Dom Pedrito, Rio Grande do Sul - Brasil, 
em 20 de setembro de 1930.
Está lá na festa do Céu, desde 21 de maio de 1994.

   A data de 20 de setembro, por coincidência, é feriado no estado do Rio Grande do Sul, comemoramos o dia do gaúcho. Meu pai era deste estado, mas toda sua família, das campanhas do Uruguai. Ele amava todos esses campos, os pampas do sul, por isso, encerro com um poema gauchesco.

Aldeia
(por Marcelo D’Ávila)*

Um velho estancieiro disse um dia:
"Pinta tua aldeia e pintarás o mundo" - **
E deste ensinamento tão fecundo
Fiz os esteios da minha poesia.

Meu verso é como faca ou punhal,
Sem cabo, só lâmina em essência:
Universal,  nascido na querência,
Campeiro, tendo o mundo por quintal.

Meu verso é um rio que corre em minhas veias
Menor e menos belo do que o Tejo -
Mas é meu verso - e assim é que o desejo
Porque é o rio que corre minha aldeia.

Canto minha aldeia e nela me desmancho
Porque é meu pago, é porto, fortaleza,
E trago no meu verso esta certeza
Que o mundo inteiro cabe no meu rancho.


   * Marcelo D’Ávila foi meu colega em Sant’Ana do Livramento, fronteira com o Uruguai, na época em que morei lá, dos meus 7 aos 12 anos. Hoje, é médico, poeta e contista. Neste poema gauchesco, utiliza uma citação de Tolstoi **, além de referências a Fernando Pessoa, João Cabral de Melo Netto e Pablo Neruda.
Tenho orgulho de todos gaúchos que amam os ventos do Sul 
e traduzem isso em arte para o mundo e com o mundo.

A alma dos pampas que me fez de morada: 
o velho casarão doce e amargo dos ventos do sul.

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Pátria amada, Brasil


Bandeira do Brasil feita pela minha filha Luíse,
de 4 anos, para o "bog" (blog)!

  
   Pessoal, pequena pausa nas histórias do condomínio 
para uma crônica* na Semana da Pátria.

  No mês em que se comemora a Independência do Brasil, uma questão que muito cidadão brasileiro já se fez: tenho orgulho de ter nascido aqui?
   A todo momento, novos casos de corrupção política; temos índice elevado de analfabetos, assim como, de baixa escolaridade; no setor de saúde pública, o caos; muitas pessoas em estado de subnutrição, fome e sem moradia humanamente decente.
   A verdade é que, quando viajamos para outro país, uma enorme vontade de Brasil se apodera de nós. O nosso país é nossa casa, mesmo que construído em alicerces de problemas.
   Sim, tenho orgulho de ser brasileira!
   O povo brasileiro possui uma enorme capacidade de adaptação que poucos têm.
   Tenho orgulho do cidadão que sustenta sua família de cinco filhos ou mais, com apenas um salário mínimo ao mês, e dos que, às vezes, nem salário tem, vivendo de biscates. Orgulho da mulher idosa de uma comunidade carente da região metropolitana de Porto Alegre que cuida de mais de dez crianças para que suas mães possam sair de madrugada para trabalhar. Daquele que perdeu tudo, mas sobrevive. Do que não tem nada, mas insiste.
   Esse é o brasileiro. Nos esportes, o piloto de Fórmula 1, apontado ainda hoje pela crítica especializada como o melhor de todos os tempos, Ayrton Senna, aquele que  retardava  as freadas e antecipava a aceleração após as curvas, mesmo se grande chuva caísse no circuito. Assim venceu corridas, quando ninguém conseguia fazer o mesmo. Brasileiro, como o jogador de futebol Garrincha, coluna torta, uma perna maior que a outra, e que importância tinha isso? Parava a bola no chão e mandava quando ela tinha que seguir. Ninguém conseguia tirá-la dele. Soberano absoluto.
   Esse é o brasileiro. Grande capacidade de adaptação, que pode ser sua grande qualidade e seu maior defeito. Quando deve exigir seus direitos coletivos, se torna passivo e adaptável, diferente, por exemplo, dos vizinhos argentinos, vide episódio do Curralito, confisco da poupança do cidadão daquele país; se compararmos à nossa reação quando tivemos episódio semelhante.
   A certa alegria de viver, quando a luz não aparece, e muitas vezes nem a comida. O procurar ser feliz no meio do caos e da violência. O sambar e cantar, o sorrir sem motivos, e ainda agradecer a Deus pelo pouco.
   Sim, por tudo isso, tenho orgulho de ser brasileira! Pertencer a esse povo que tem a “Pátria Amada, Brasil” em seu sangue, e algumas vezes, apenas isso.

Foto que tirei de uma vitrine em Munique, Alemanha, em 2005.


* Crônica publicada nos jornais:
Jornal da Semana (Cuiabá); Correio Rural (Viamão); Diário Popular (Pelotas); VS (São Leopoldo) e Correio de Gravataí (Gravataí).

Agradeço aos amigos que leram e/ou comentaram
no site do Diário Popular. Obrigada, de coração!


Pessoal, estou muito feliz! 
O primeiro jornal fora do estado do Rio Grande do Sul, 
que apostou em meu trabalho foi o "O Dia", do Rio de Janeiro, 
e agora, também, o "Jornal da Semana", de Cuiabá, Mato Grosso.