domingo, 15 de julho de 2012

Dê um passo à frente quem for mulher



Resultado da minha parceria literária com a amiga Luciana Santa Rita


"Não meça o trabalho até que o dia tenha acabado... e o trabalho concluído." 
(Elizabeth Barrett Browning autora de Sonnets from the Portuguese - 1847)

   Elizabeth Barret conhecia as peças de Shakespeare e outras obras clássicas antes dos 10 anos de idade, mas era apenas uma poetisa emotiva da época vitoriana. Talvez nunca percebesse que poderíamos ser agentes de nós mesmos, como pilotos de nosso próprio avião, assumindo o controle, definindo rumos, por meio da distinção dos desejos, em objetivos ou caprichos.
   Drummond poetizou a mulher de inúmeras formas, mas a diferença não está no gênero, mas na capacidade dessa mulher de olhar um caminho à direita; e outro à esquerda, e poder optar independente, pelo que parecer mais atraente no momento até onde a vista alcança.
   A mulher vanguardista pode ser interpretada como protótipo da gata borralheira, idealizada como uma mulher desprendida no ato de doar, de ofertar carinho.
   A mulher ao longo do tempo foi discriminada por razões de diferenças biológicas, sendo-lhes atribuído um papel social restrito à esfera da vida doméstica. Todavia com as mudanças sociais, a atuação do movimento feminista introduzindo a perspectiva de gênero, a diferença entre homens e mulheres ganhou nova dimensão: a cultural.  Sendo possível distinguir o que é um mero desejo, de um desejo que se transforma em um objetivo de vida, mesmo que sem maiores pretensões ou que represente uma pequena passagem de tempo. 
   Mesmo considerando a inserção da mulher no contexto urbano, ainda é notória a reduzida representação feminina em várias esferas. A fragilidade dos salários, os indicadores de violência doméstica, a mulher objeto, a compatibilização da cultura machista com as leis, entre tantas outras evidências disso.
   Neste período em que encontramos inúmeras possibilidades que podem nos transformar de Borralheiras a Cinderelas num escorregar de mouse, o gênero e a beleza ainda são igualmente utilizados para designar as relações sociais entre os sexos. Essa discussão revela que o estudo do gênero sempre serviu para desmitificar ideias construídas sobre os papéis adequados aos homens e às mulheres.  E assim, lembrando a frase de Simone de Beauvoir: “não se nasce mulher, torna-se mulher”.
  À mulher é exigido o equilíbrio de relacionamentos que já estão esfacelados, onde houve mudanças e que talvez não devam ser mesmo eternos, isso mesclando à complexidade feminina que incorpora todo o cardápio de princesas: Bella, Cinderela, Branca de Neve, a Fiona, mas também a madrasta má, suas filhas, até o espelho mágico e o tapete do Aladim.
 Confinadas e multifacetadas, mais exigidas e fortes emocionalmente que os homens, talvez por isso, permitindo-se ser a madrasta má de vez em quando. Versáteis, pois cabem vários papéis ao longo da vida, até para quem não é mãe, mas é tia; para quem está desempregada, mas é do lar.
   Pensar em vanguarda é entender a ditadura do ‘sejam melhores em tudo’: tão interessante como a princesa, mas forte como a madrasta. Mas que deseja um Tiago Lacerda, embora pareça só existir os Shereks. Nesse contexto, ainda se faz presente a figura do Mr. Magoo (personagem-detetive, com grave deficiência visual) procurando a Mulher Maravilha, ou seja, exigindo uma super-heroína, embora não 'veja' a ponto de reconhecer ou valorizar uma. A verdade é que sapato de cristal quebra e não é confortável.
   Por um lado, sair da vanguarda nas relações amorosas pode significar passar a vida inteira substituindo o protagonista da estória, se repetindo na sessão da tarde por vontade ou falta de opção. Acreditando naqueles que pareçam confiáveis, repetindo o refrão de que ‘é preciso confiar’, mesmo quando o cara pede um tempo. Não percebe o amor à contra-gotas, granel ou em doses homeopáticas.
   Por outro, existe a vanguardista que não se conforma com ‘tanto faz’, nunca reclama se não há luz no inferno ou acredita no céu enfeitado, apenas entende o estado das reticências, do ponto final e dos complementos. Não lamenta a solidão em seus escritos, nem agoniza suspiros sobre o fim: jamais prevê a catástrofe. Tem conduta simples, rápida, pronta, entende o fim, e parece disposta a se libertar. Agir dessa forma, pode ser a crença no amor, sem ter certeza da alma gêmea como eterna ou única possibilidade: um tanto da nossa vida é reciclada, algumas coisas tiradas e outras vêm em acréscimo, inclusive nos sentimentos, e isso não altera a força par, mas pode alterar a dança dos casais.
   Dê um passo à frente quem for mulher. Dê um passo à frente quem busca a dignidade que a realização traz. A realização de ser independente na escolha, mesmo que com erros e incertezas, tristezas ou felicidades, mas com rumo certo: apenas, um passo à frente.



Luciana Santa Rita & Ana Cecília Romeu

Este texto também pode ser apreciado no blog da Luciana.

quinta-feira, 12 de julho de 2012

Do virtual ao real - 2: Eu e Luciana Santa Rita


   
   O primeiro amigo virtual que conheci no plano real foi o Jim Carbonera. No ano passado, fiz uma postagem sobre o encontro que coincidiu com o lançamento do seu primeiro livro: Divina Sujeira. Vocês podem conferir neste LINK.

   Dia 6 de julho, sexta-feira chuvosa em todo Rio Grande do Sul, frio de menos de 15 graus, quando há dois dias fazia máxima em torno de 32 graus. O cenário poderia não ser perfeito para essa alagoana acostumada a um “inverno” de 27 graus, mas isso não teve importância, pois encontrei pela primeira vez, pessoalmente, a amiga Luciana Santa Rita.
   Conheci a Luluzinha, como eu a chamo, virtualmente em janeiro, quando ela veio a meu blog em razão de uma parceria que eu fazia naquele momento com o amigo Jorge Pimenta. Percebi nela, alguém que comentava de forma inteligente, analítica, que acrescia a meu trabalho. Quando cheguei a seu espaço virtual, fiquei encantada pelas crônicas que quase dissecavam o tema. Como podia alguém conseguir visualizar três, até quatro dimensões em um único assunto? Aquilo me atraiu profundamente. Senti ali alguém especial,  disposta em generosidade a compartilhar sua inteligência com tanta gente diferente, como temos essa possibilidade aqui na blogosfera.
   E desenvolvemos uma amizade que agora se concretizou. Fiquei e estou muito feliz por ter conhecido alguém tão assim. Alguém tão...
   Ficar sem palavras ou perdê-las ao lado da Luciana não é muito difícil; o que é fácil é saborear cada momento, seja aqui em casa, no restaurante, na serra gaúcha. Momentos para não se esquecer.
   Luciana mostrou-se uma amiga disposta à partilha da vida e dos sentimentos. Uma pessoa aberta ao contato, que irradia comunicação em sua mais rica dialogia, pois me senti com ela, desde o primeiro momento, à vontade para o dar e receber, sem amarras na exposição das duas vias de acesso onde nos cumprimos plenos como ser humano. Onde a troca nos fundamenta e nos coloca sentido para além do conhecimento ou de qualquer informação. Um gesto, um olhar e nos sentimos realizados no reflexo do outro, como se conhecêssemos há muito tempo, e além do tempo. E isso me fez feliz, e por isso estou feliz, por ter a oportunidade de encontrar alguém com a alma tão generosa e aberta.
   Para você, Luluzinha, minha cara amiga, meu muito obrigada por tudo!
   Pretendo ainda conhecer muitos de vocês no plano real, e aqui concluo dizendo o mesmo que na outra vez: só é impossível aos olhos, o que nos é impossível ao coração.





Espaço virtual da Luciana: Navegando no Cotidiano

sexta-feira, 6 de julho de 2012

Blogagem coletiva: espiritualidade


Fotografia de Ana Cecília Romeu
Cerro Pán de Azúcar - Na cidade de Pán de Azúcar - Uruguay

Pessoal, este texto é a minha participação na blogagem coletiva sobre Espiritualidade. Hoje, em todos blogs participantes há postagens sobre o tema, onde cada um expõe sua visão. Um abraço a todos!

   Sou de uma família de católicos. Desde pequenas, meu pai e minha mãe nos levavam, eu e minha irmã, nas missas aos sábados. Quando morávamos em Pelotas, me lembro de que ficava todo tempo observando as pinturas do teto e das laterais da Catedral, depois entendi tratar-se de obra humana, mas como toda arte, inspirada pelo divino. Depois veio a primeira comunhão, na cidade de Livramento, fronteira com o Uruguai.
   Quando completei 12 anos, regressamos para Porto Alegre. Uma prima nos convidou a participar de um grupo de jovens católicos na Igreja N.Sra. Auxiliadora. Porém, diferente dos outros que existiam na época, Emaus, CLJ; era autônomo, composto por jovens que coordenavam suas próprias reuniões: escolhíamos um assunto e todos traziam materiais a respeito. E foi a primeira vez que ouvi falar em palavras como: ‘massificação’, ‘alienação’. Os temas eram diversificados, mas política, educação, relacionamentos, eram recorrentes.
   Aos 15 anos me crismei, que é a confirmação do batismo na Igreja Católica. No ano seguinte, eu e minha irmã, a Bel, fomos convidadas a dar aula para o curso preparatório de crisma, o que foi ótimo, pois me ampliou a visão do cristianismo nesse desafio. Também escolhíamos temas diversificados da realidade e que poderiam ser pertinentes aos interesses deles. Curiosamente, o grupo era eclético, pois havia desde adolescentes até pessoas com mais de 40 anos.
   Nessa experiência com o grupo de jovens e intercâmbio com outros grupos autônomos, conheci a Teologia da Libertação: a visão que completa minha espiritualidade. Considero-me católica, porém simpatizante da Teologia da Libertação, ou seja, acredito no cristão não como um contemplador do mundo e um conformista, mas como um agente transformador da sociedade, das relações para o bem comum. Na relação que a religião faz com a sociedade, porque somos seres inseridos nela, e em todo seu contexto político, econômico. No cristão como a pessoa que dará seu melhor, seja como pai, mãe, amigo, profissional, cidadão, buscando a paz e o bem para além dos interesses pessoais, pois inserido na sociedade, em um grupo e na crença de que a  'união faz a força’. Em algumas ocasiões tive contato pessoal com Leonardo Boff e frei Betto, o que concretizou para mim essa opção.
   Nunca rezei o terço, isso não me bastaria; assim como participar de missas rotineiramente. Acredito na máxima de Oscar Wilde: “Toda repetição é anti-espiritual”. Minhas rezas são conversas que tenho com Deus, que sinto como um amigo próximo, onipresente e onipotente, mas acessível, que me escuta e fala comigo através do reflexo de meus atos. Um Regente dessa grande Orquestra chamada Universo.
   Sendo conivente com a Teologia da Libertação, eu não poderia deixar de participar de uma blogagem coletiva sobre espiritualidade, assim como assumo a postura de respeito às crenças alheias e inclusive a falta de. A espiritualidade é uma experiência e escolha pessoal que deve completar o indivíduo, inseri-lo na sociedade, ser um meio de expressão e refletir uma visão que o ligará de alguma forma a esse mundo. Aceitar isso é um ato libertário por si só, e coerente como professo minha fé.
   Nesse mundo tão cheio de mazelas, procurar uma ligação que nos complete, e que possamos devolvê-la para o bem de uma coletividade, pode transformar os rumos, pois temos essa capacidade de, de grão em grão de areia, compormos uma praia. De tornar possível um projeto superior e conjugá-lo com nossos semelhantes, pois para mim: o invisível quando divisível é amor.

Eu com meu amigo César Caminha,
amizade cultivada desde o Grupo de Jovens.


Blogs que se comprometeram a participar, neste link: