sexta-feira, 15 de março de 2013

"Fué la mano de Diós"

Fotografia de Pedro Costa - no Vaticano

Somente a esperança tem os joelhos nítidos.
(Juan Gelman - em Límites)

   Disse Maradona, argentino, ex-jogador de futebol, quando fez gol de mão na copa de 1986 contra a Inglaterra, e jurou que foi a ‘mão de Deus’, referindo-se à uma ajuda divina. Inevitável que eu fizesse uma analogia com a escolha do novo Papa, o sucessor de Bento XVI.
   Quando a fumaça branca do Vaticano sinalizou o “habemus Papam”, eu e mais milhões de brasileiros entramos numa torcida ao vivo como em final de Copa do Mundo, ainda que se tratasse de religião, e não de esporte. O bem cotado para o cargo máximo da Igreja Católica, o brasileiro, gaúcho natural de Cerro Largo, Dom Odilo Scherer, parecia cada vez mais se encaixar nas possibilidades.
   Com a necessidade de uma renovação na Igreja Católica, coisa que não se faz segredo a ninguém visto a perda em números de fieis, alguns escândalos que vieram à tona nos últimos anos, a estagnação em diversas questões; a renúncia de Bento XVI, mesmo assim, já tinha sido uma surpresa, o que não acontecia há 600 anos. A escolha de um novo Papa que fosse alguém fora da Europa, de um continente emergente como a América Latina, onde o número de católicos é significativo, tendo no Brasil seu maior expoente, levou a crer numa possibilidade real de um Papa brasileiro.
   O que não esperávamos era o nome de Jorge Mario Bergoglio, argentino, arcebispo de Buenos Aires, ser o novo Papa e primeiro da latino América, o Francisco, como se autonomeou. Um drible surpreendente como se Messi, o também argentino, e eleito o melhor jogador de futebol da atualidade, nos tivesse roubado a bola num encanto de segundos e feito gol bem na frente de nossos olhos inertes.
   Mas o que a Argentina tem que nos dá a sensação de chegar antes do Brasil em vários ‘títulos’? Não há dúvidas que os argentinos, em especial os portenhos, dirigem rápido, o que faz o trânsito de Buenos Aires ser muito “rápido”, aqui não existe outra palavra melhor para qualificá-lo; mas, para além de Juan Manuel Fangio, o primeiro piloto de Fórmula 1 a vencer cinco campeonatos, eles têm a linha de metrô mais antiga da América Latina. A Argentina ainda carrega em suas conquistas cinco prêmios Nobel: dois da Paz, dois da Medicina e um da Química. Por duas vezes, ganharam o Oscar de melhor filme estrangeiro com: La historia oficial e El secreto de sus ojos.
   Quem conhece a Argentina pode ainda atestar que no país de Borges, Girondo, Gelman e Cortázar o pessoal lê muito, protesta quando deve, não deixa passar em branco questões duvidosas na política, e ainda tem uma das capitais mais apaixonantes do mundo.
   A mão de Deus é para todos. E assim esperamos que o novo Papa, um argentino, conduza os rumos da Igreja Católica a um maior entendimento em diversas questões, e ele também seja uma mão a trazer um pouco de segurança a tanta gente que ainda crê no principal campeonato: o da paz mundial.


*Crônica publicada também no Jornal O DIA do Rio de Janeiro, 
Jornal do Comércio de Porto Alegre, 
Diário Popular de Pelotas,
Jornal A  Plateia de Sant'Ana do Livramento, 
NH de Novo Hamburgo 
e Gazeta do Sul de Santa Cruz do Sul.


Mariposa Techinicolor - Fito Páez