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Fotografia de Pedro Costa - Reserva ecológica do Taim - RS |
Procuro a voz do
sereno
Nesses versos que
componho;
Não sou grande, nem
pequeno:
Meu tamanho é do meu
sonho!
(fragmento de
Milonga de andar caminhos, de Marcelo Dávila).
Hoje decidi escrever sobre o nada. Nada não
é o algarismo 1, nem sua escala negativa, o -1. Nada é como se fosse o zero que
apesar de ser um número, coisa alguma representa. Mas como tudo é relativo, um zero
à esquerda é o próprio número; e à direita, outro número.
Recordo que quando cursei a oficina de
contos do escritor Luiz Antonio de Assis Brasil, houve exercício literário em que precisávamos
descrever um molho de chaves caindo de uma mesa e deveríamos usar o máximo de
palavras para essa única cena que, em tempo real, não dura mais que alguns
segundos. Maravilhoso exercício de forma, tecer letras em urdidura de um
quase-nada que me rendeu em torno de duas laudas de... quase-nada.
Por falar em quase-nada, fiquei pensando em
quantas amizades de anos e votos de amores eternos terminam por quase-nada. Porque
um disse tudo sobre nada; e o outro disse nada sobre tudo, gerando
desproporções de algarismos sensoriais para além do número zero, ao criar
vácuos de linguagem e abismos sem passagem. Prenúncio de fim até a fossilização
do sentimento que talvez seja redescoberto na escavação arqueológica do próximo
relacionamento, e dimensionado com cuidado em carbono-14 para não haver
repetições dos ‘quase’ definitivos.
O nada também pode ser um silêncio, a ausência de palavras, a ausência de carinho, a ausência em si. É quando deixamos de ser plenos porque sentimos falta, e o que sobra não sustenta a existência. As reticências mudas abrem inúmeras interpretações: não existe palavra mais cruel do que a que não é dita. Não existe maior tortura do que um carinho esperado que não chega.
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Fotografia de Pedro Costa - Reserva ecológica do Taim - RS |
O nada também pode ser um silêncio, a ausência de palavras, a ausência de carinho, a ausência em si. É quando deixamos de ser plenos porque sentimos falta, e o que sobra não sustenta a existência. As reticências mudas abrem inúmeras interpretações: não existe palavra mais cruel do que a que não é dita. Não existe maior tortura do que um carinho esperado que não chega.
O nada pode ser a falta de ousadia, de
projetos, de objetivos. Se não damos um passo à frente, ou mesmo um passo atrás
para dar dois à frente, estamos estagnados. É quando assistimos a nossa vida
sem perceber que todos os capítulos são iguais: o roteiro é o mesmo da novela
anterior, repleto de clichês e bordões.
O verdadeiro preencher do ser talvez esteja
numa pequena soma aqui e ali de realizações quase imperceptíveis, quando
tomamos a decisão de sermos mais que nada, de fazer valer os números do dia:
minutos, segundos. Ainda que partamos sempre da mesma hora zero, nossa vida
valerá mais que nada sem despender de calculadora científica para essa grande
matemática-desafio que é a própria existência.
Somos do tamanho dos nossos sonhos, e isso é
mais do que nada: é tudo que podemos.
Crônica também publicada nos jornais:
NH (Novo Hamburgo)
Diário de Cachoeirinha/Sinos
Correio de Gravataí/Sinos
Jorge Drexler - Todo se transforma
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Não irei anunciar pausa, porque cheguei a conclusão de que a vida é assim mesmo: uma sucessão de coisas imprevisíveis. As pausas imaginadas com duração de meses, podem se transformar em dias; o adeus, apenas um breve tchau, para na manhã seguinte se compartilhar o café. Então deixo a todos, como diz meu amigo Felisberto Júnior: bom dia, boa tarde, boa noite! Pelas dúvidas, mas, principalmente, pelas certezas!
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Em Punta Ballena, Uruguay |