quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

O gato dá sorte!

    — Lito? Mas que é Lito? — indagou Rodolfo.
   — A descrição que consta nos autos refere-se a um filo chordata da classe mammalia, de ordem carnívora, da família felidae, do gênero felis, espécie f.silvestris, cujo nome trinomial é Felis Silvestris Catus — leu o homem de óculos grossos.
   — Puxa que legal! — sorriu Rodolfo — Mas onde ficam as terras mesmo?
   O homem ajeitou os óculos no nariz e seguiu lendo:
   — Consta que o Felis Silvestris Catus em questão denomina-se Lito e foi deixado como único item a ser herdado pelo senhor Rodolfo Hernani Perez, de sua tia Amanda Filomena Perez...
   — Só um pouquinho — interrompeu Rodolfo — Deixa eu entender, o que é Lito?
   O homem seguiu:
   — Consta pela descrição tratar-se de um felino domesticado, SRD, sem raça definida — completou o homem.
   — Não é arenito, basaltito, pedrito, qualquer coisa em cima de uns 50 hectares, não? — disse Rodolfo perplexo.
   — É um gato, meu senhor! — por fim, explicou o homem.
   Puff!
   Rodolfo, homem muito alto e de peso avantajado, resvalou no assoalho lustroso da peça. Ficou estirado que nem massa de panqueca.
   — Um gato? O senhor quer me dizer que eu herdei só um gato? — gritou Rodolfo, ainda estirado no chão.
   — Sim e vem acompanhado de uma carta de sua falecida tia. Agora,  será feita a leitura da mesma para ser registrada como tornada pública.
   — Que vergonha, tia sovina! — Rodolfo disse com muita raiva levantando devagar.
   O homem abriu a carta em papel linho, com cuidado, e leu:
   — Meu caro Rodolfo, o que te deixei parece pouco, mas tenho a lhe dizer, meu sobrinho querido, é que o gato dá sorte.
   Rodolfo começou a chorar descontrolado.
   Um dia depois e o gato foi entregue a Rodolfo em sua casa. Olhou para o bichano, um gato simplezinho, amarelo de peito branco.
   — Olha senhor Lito, vou te aceitar porque gostava daquela tia sovina. Mas não me incomoda, senão tu vai virar comida de cachorro, ok? — disse olhando o gato no olho.
   Mas o tal gato era muito fino. Veio com carta de recomendação. Horário certo para as refeições; só comia ração importada; atum nos fins de semana, mas sem óleo, tinha que ser o natural light. Levar no veterinário uma vez por semestre; e na petshop, todas as semanas para escovar o pêlo com mousse.
   — Amanhã estou dando o senhor para a vizinha, a mulher está viúva e já tem seis gatos, mesmo! — disse furioso.
   Mas naquela noite Rodolfo teve pesadelo muito real. A tia Amanda, tocando na barriga do gato, dizia que se ele fizesse isso também, "com muita fé, meu sobrinho", o gato ia dar sorte. Sentiu até o perfume de violeta que tia usava nas missas dominicais.
   Na terceira noite com o mesmo sonho, acordou suado, passou lenço umedecido no pescoço e foi procurar o gato. Lito estava na poltrona da TV dormindo em cima do controle remoto.
   — Agora eu te pego cara, vem cá! — falou alto Rodolfo.
   Esfregou com muita força a barriga do gato, ficou com um quilo de pêlos nas mãos.
  — Agora tu vai me dar sorte! Tô precisando de grana, tô quebrado! Vai me ajudar, ou te levo pra vizinha! — disse furioso.
   O gato olhou para Rodolfo e depois para a lata de atum, que estava sobre o aparador da cozinha.
   Meses passaram e Rodolfo insistia, afinal a tia seguia aparecendo em sonhos. Todas as noites e o mesmo sonho. Chamou padre, macumbeiro, o síndico, a ex-namorada, a vizinha, o médium, até o padeiro, e o sonho seguia.
   — O gato dá sorte! — falava em todos os sonhos a tia Amanda, esfregando a barriga do Lito.
   Nada acontecia. Rodolfo cansou e deu o tal gato para a vizinha viúva.
   — Pelo menos ela não vai sonhar com a tia, nem a conheceu mesmo!  — conformou-se Rodolfo.
   Alguns dias depois, e a vizinha foi acometida de mal súbito. Faleceu na cama, abraçada ao Lito e seus outros gatinhos. Rodolfo deu graças a Deus, que havia dado o tal gato.
   — Esse gato dá é azar! — disse ele.
   A irmã mais nova da vizinha herdou tudo e os gatos também. A última vez em que foi vista por amigos íntimos, estava esfregando a barriga de Lito, tem gente que ainda ouviu ela dizer:
   — Obrigada meu gato preferido, amanhã vamos para Paris, ganhei em concurso passagem e estadia em hotel cinco estrelas e você vai comigo! — disse soridente.

Dedico a todos que amam os animais, em especial à minha irmã Bel, com seus seis cachorros e cinco gatos (por enquanto), e que me ajuda um montão aqui no blog!

Ah! E o gato Lito é meu, não dou ele, mesmo!

21 comentários:

  1. Poxa, Ana, muito obrigada pela menção!!!!

    Bom, tu sabes o quanto torço por ti e o quanto amo minha gurizada: os gatos - Bebê, Cachorrinho (é esse o nome mesmo... rsss), Zumba, Raví e Cêguinho (vem de morceguinho... rss) e os cachorros - Urso, Loren, Ana Cecília (é... tem o nome da blogueira, mesmo! rsss), Rudolf, Ramona e Kiara (que já foi personagem real aqui no blog).

    Bahhhh... fiquei super orgulhosa e agradecida!

    Bjãooooo

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Oi Cissa, gostei bastante do teu blog, como você escreve bem. Gostaria de fechar parceria contigo. Você me diz como proceder, então aguardo o retorno para colocar teu banner no meu blog e vice versa, ok?

    Abração pra ti e parabéns pelo blog.

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  4. haha conhecemos assim o Gato Lito!

    parabéns pelo seu blog ... é diferente ^^


    Abraço
    Equipe Do Nada!
    www.doonada.blogspot.com/

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  5. Cissa!(já estou íntima! *_*) Que conto mais saboroso! Confesso que o li com um sorriso de uma ponta a outra. Imaginei o Lito, com essa descrição claríssima, com seu jeitão, meio gato inglês, fino, comendo atum light e de prima, todo dengoso, com um caminhar nobre e com sua sorte... E que o novo-ex dono esnobou por sua impaciência!!! Aha! Ganhou a menina que entrou no final - Paris! Ula-lá! Já o imagino com a boina parisiense, todo fofo! Amei o Lito, o do texto e o seu!

    T.S. Frank
    www.cafequenteesherlock.blogspot.com

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  6. Oi Cissa, já coloquei teu banner no meu blog. Concordo contigo, deve-se haver união e compartilhamento. Nesse ambiente virtual é fácil dissimular e tornar a coisa superficial. Creio que, mesmo à distância, e atrás das teclas frias do computador, podemos sim forjar belíssimas amizades. Basta nos doar-mos.

    Sempre vou estar por aqui. Abraço.

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  7. Ah, mto bom o conto!

    Tbm, sou suspeita para falar, porque tbm adoro gatos!!

    Parabéns e obrigada pelas visitas ao meu blog!!

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  8. Hehehe... adorei esse Gato Lito!!! Eu tb tenho um, e se chama "loirinho" pq é TODO AMARELO igual ao Garfield!

    E adorei tb os diálogos! rs

    Um grande beijo,
    www.vemaquinomeublog.blogspot.com (estou com um post novo, depois vai lá!)

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  9. kkkkkkkkkkkkkkkk
    Não poderia ser melhor. A riqueza de detalhes para chegar a conclusão perfeita, é de dar muita risada mesmo. Curioso a maneira como você consegue aliar uma bela história com humor. Aí entrou uma série de ingredientes: a herança, a decepção, os diálogos, os "profissionais" envolvidos tentanto ajudar, até o derradeiro momento de partir dessa para a outra.
    Fantástico. Aí está o Lito!!
    Ana, um grande beijo pra ti e tenha um ótimo dia.

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  10. A Chambinha minha gatinha (tem ela no meu blog), e a Fridona minha cachorrona (tem ela também lá, hahahahaha), também dão muita sorte pra mim, dão sorte porque elas sempre estão felizes e querendo carinho e brincar! Esse povo de 4 patas são muito gente fina, eu tenho dó de quem não gosta de animais....

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  11. Ah Cissa, atualizei o blóg, passa lá depois...

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  12. Que conto maravilhosooo...por isso que adoro vir aqui. Seu humor é fantástico!

    Como Lito é fofo, genteee! =)

    Beijos, MINHA FLOOOOOR!!!!

    Te espero lá no blog, tem post novo ;)

    www.nicellealmeida.blogspot.com

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  13. eu não gosto muito de gatos, acho esse olhar (o da foto) muito "vou te matar, sou do mal". É assustador. =S
    Acho que Lito está um pouco acima do peso, né? hahaha ^^
    =]

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  14. rsrsrs... Adorei essa história agradável. Eu adoro animais, já tive um gato chamado Dimus, mas hoje em dia eu tenho duas calopsitas rsrsrs.

    Cissa, coloquei o seu banner no meu blog, oquei?

    Um Grande beijo.

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  15. Cada vez melhor!
    Desculpe por eu estar sumido, quando agente pensa que pode cmeçar a fazer alguma coisa surge um trabalho que impede...mas parabéns pelo blog!Seus contos estão sempre bons!

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  16. Confesso, que naum sou muito fã de animais de estimação "em minha casa", por diversos fatores, minha sobrinha não tirava o pobre do cachorrinho do colo, minha mãe é alérgica e "todos" meus cachorrinhos fofos morreram de doenças, mas sou fascinada com este fofuchos e como eles nos trás alegria...Um dia ainda terei um bichinho em casa...hehe
    Querida, não recebi teu email da poesia, talvez tenha passado errado :josilva86@hotmail.com

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  17. Deixei uns selinhos pra você em meu blog.Espero que goste! Tenha um ótimo fim de semana!

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  18. Ótimo blog, assim então, ótimos contos.
    Parabéns, já estou seguindo.
    Abraço Atilado.

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  19. Adorei o conto,mas confesso que mesmo amando os animais,morro de medo de gatos,rsrsrs
    Desculpa o sumiço,muito trabalho na serra.
    Bjs

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  20. Otima estória, pelos vistos o Lito continua o mesmo gato folgado de sempre!
    Realmente ele é um verdadeiro gato aristocrata!!
    Actualmente também tenho um desse tipo...ou seja se julga o dono do pedaço!!eheheh
    Continua nos divertindo com essas estorias!
    Cumprimentos a todos...Lito inclusivé!

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  21. Não canso de olhar a foto... o barrigão do Lito é uma cooooisa de linda! rsssss

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