![]() |
Interferência em imagem retirada da internet. |
No cansaço iminente,
sem querer mais me esconder
assim reencontrei a vida,
e foi no espelho,
em duas pedrinhas nos olhos que sorriam.
(fragmento de Pedrinhas de beijo – de minha autoria)
Marat Safin, ex-tenista russo que fez sua aposentadoria em 2009, ainda hoje é lembrado por seu temperamento explosivo nas quadras que sempre renderam um show à parte com direito a raquetes quebradas e toda sorte de caretas e gritos que compunham verdadeiro espetáculo. Toda vez que Marat era colocado à prova por um adversário forte, ou mesmo quando cometia uma sequência de erros, o descontrole emocional ficava evidente, e não raras vezes perdia o foco das jogadas. Isso não o impediu de ser um dos maiores jogadores de tênis de todos os tempos.
Em muitos momentos da vida somos testados em nossos limites
emocionais, e como nesse esporte, isso pode ser decisivo.
Fiquei pensando sobre esses desafios e que cada um de nós tem
o seu ponto fraco, onde percebemos ali nossa linha fronteiriça entre o querer e
o poder, o que passa pelo autoconhecimento e pela vivência, mas como no dito
popular “a experiência é um pente que se usa quando se fica careca”, nem sempre
a solução vem a tempo e hora, e o desafio de melhorar torna-se ainda mais
difícil: o de ser mais vezes o Marat vencedor do que o quebrador de raquetes.
A verdade é que a dualidade forte/fraco, efeitos/defeitos nos
compõe e sermos ela por excelência é sermos nós.
Viver já nos oferece um contrato de pré-requisitos, uma bula
de remédios com posologia especificada em letras miúdas a cumprir, onde o fazer
se sobrepõe ao ser. Talvez apenas tentar amenizar nossas fraquezas já seja o
suficiente.
Pensando na frase de Millôr Fernandes: “todo homem nasce
original e morre plágio”, como achar o ponto de equilíbrio entre o superar
fraquezas e o não perder a identidade?
Creio que devamos analisar até onde elas podem prejudicar
outras pessoas, porque tentar a perfeição talvez seja beber do impossível em
doses homeopáticas.
Marat Safin não seria ele mesmo se não tivesse quebrado
tantas e tantas raquetes. Vamos nos permitir quebrá-las de vez em quando,
descer do salto, nos molhar na chuva, contanto que seja nossa própria chuva. Se
isso não prejudicar ninguém, será no mínimo porta aberta ao bom humor ou um
grito de “estou vivo” o que pode ser suficiente para nos eternizamos de forma
autêntica, e não sermos imagem e semelhança de clone perfeito: sem nome,
sobrenome e alma.
Crônica publicada nos jornais: NH (Novo Hamburgo),
Diário Popular - seção Análise (Pelotas),
Gazeta do Sul (Santa Cruz do Sul),
Diário de Cachoeirinha/Sinos e Correio de Gravataí/Sinos.
Diário Popular - seção Análise (Pelotas),
Gazeta do Sul (Santa Cruz do Sul),
Diário de Cachoeirinha/Sinos e Correio de Gravataí/Sinos.