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Paris, 2002 - fotografias ainda em câmera analógica. |
- Histórias de Viagem - episódio 1 -
Paris, 2002.
Minha professora de francês já havia me ensinado o verbo “débrouiller”,
o famoso “se virar”, ou ainda o mais famoso: “jeitinho brasileiro”. E que em
algum momento na França eu teria que dar esse jeitinho, considerando que tinha
apenas um semestre de estudo em língua francesa. Isso estava me tirando o sono
tanto quanto o medo de subir no avião.
E não foi, mesmo, que precisei usar o tal jeitinho?
Finalmente eu e o marido em Paris – Cidade Luz! Uh lá lá!
Desde meus nove anos sonhava em conhecê-la, quando a professora de Educação
Artística projetou slides da Notre Dame, Museu do Louvre e de muitos dos
encantos da capital francesa. Minha decisão de menina: vou conhecer Paris!
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Museu do Louvre |
2002 - época em que fomos pela primeira vez, não havia ainda
a difusão de sites de reservas de hotéis, que geralmente são confiáveis, onde se
procura ofertas adequadas ao bolso, localização e tipo de dormitório
pretendido. Tínhamos, então, o endereço de uma pousada recomendada por uma
amiga, localizada não muito distante da estação ferroviária, e com
disponibilidade de leito.
Chegando lá, um prédio muito antigo, mas reformado. Fomos até
a recepção e tentei arriscar uma das poucas frases que sabia em francês, mas
esqueci..., então: “Vous parlez espagnol?” – foi o que me ocorreu, se a moça da
recepção falava espanhol, no que me respondeu: “poquito”. E assim “hablamos”.
Descobrimos que havia duas opções de dormitório: com banheiro
apenas com a privada; ou com banheiro apenas com a ducha. Não perguntem por
que... Optamos pelo banheiro com a ducha.
Pelo menos tudo era limpinho e acolhedor, mas na hora do
banho... Olhei para a ducha e mais abaixo o botão do registro. Torci para um
lado e outro. Mas como se liga isso? Fazia um frio de menos de 10 graus, e eu
desafiando meu pobre Q.I. cansado da viagem de trem. Foi quando apertei o tal
botão, coloquei a mão para testar antes de entrar: a água quentinha, maravilha!
Entrei no box, e a água parou... Como assim, a água parou? –
Peeeeeeeeedrrrrrrrooooo, me salva! – gritei ao marido.
Ficamos os dois tentando entender aquilo tudo, até que ele
apertou novamente o tal botão e veio a água, mas percebemos que o botãozinho
começava a voltar para frente até que a água parava. E ali estávamos numa nova
descoberta: um banho com temporizador que mais parecia uma torneira de shopping
center. Mas detalhe: a água escorria por no máximo 30 segundos. What?!
Então entrou o famoso “jeitinho brasileiro”. Descobri que se
ficasse de costas, poderia pressionar o botão com o tronco e obter uma água
contínua por muitos minutos. E se ficasse de frente, poderia apertar com uma
das mãos o tal botão e passar o sabonete com a outra..., mas uma vez vacilando,
logo a água parava.
E assim, foi meu primeiro banho à francesa: inesquecível e
sinistro.
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Eis aqui a "prova do crime" - o banho à francesa! |
No final da noite, salmão, queijo brie e vinho Beaujolais.
Na manhã seguinte, depois de um ‘petit déjeuner’ com mini pão
e xicrinha de café frio, fraco e... Para quem está acostumada ao café da manhã
gaúcho? Nem pensar, tchê! Solução: novo hotel. Mas isso é outra história...
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Café da manhã... e minha insatisfação... |
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... por sorte, em Paris sempre se dá um jeitinho! |
Novas viagens......................................................
Pessoal, vou intercalar as crônicas de assuntos diversos que
publico em jornais do país e já venho postando aqui no blog; com histórias
verídicas de viagens, que não tem a pretensão de serem dicas, mas curiosidades
bem-humoradas e algumas até assustadoras...
Senti a necessidade de registrar o que nem sempre os turistas
contam, ou o que nem sempre contam aos turistas.
Relatos ainda em preparo: o fantasma de Veneza; Hallstat - a
cidade encantada na região dos Lagos, Áustria; o dia que comprei um bumbum, em
Praga, na República Tcheca; abraço brasileiro em Nice, França; Hungria para
inglês ver: uma conversa esquisita com o clone de John Lennon; first class, em
Heidelberg, Alemanha; a senhorinha do metrô de Paris - visão ou fato?; o choro
em Fátima, Portugal; dolce far niente, em Camogli, Itália; flores roubadas ao mestre Wilde, no cemitério Père Lachaise, em Paris; o inusitado arco-íris
no Cabo da Roca; a mística de Santiago de Compostela e o que nem sempre se
conta sobre o caminho...; brasileiras em Gênova - um almoço inusitado; a Casa da
Águia, no Uruguai; o dia da devolução, em Niterói, Rio de Janeiro; Pampas do Rio Grande do Sul e mais sobre a excêntrica capital porteña de Buenos Aires.
Como o tempo é curto para quem escreve, e também para quem
lê, seguirei postando com intervalo maior entre as publicações como já venho
fazendo, mas agora intercalando as crônicas com as histórias de viagens.
E fica aqui o convite para viajarem comigo, o que não
significa dizer que vai ser uma coisa necessariamente segura...
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"A gente sempre deve sair à rua como quem foge de casa, Como se estivessem abertos diante de nós todos os caminhos do mundo. Não importa que os compromissos, as obrigações, estejam ali... Chegamos de muito longe, de alma aberta e o coração cantando" - Mário Quintana - (fotografia- no hotel Laje de Pedra, em Canela - RS, 5 de maio de 2013) |