quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Mamãe do futebol

   Contratada para fazer matéria sobre futebol, jornalista tentava começá-la.  Cansada, insônia, visita em casa e filha exigente.
   Quem sabe faço crônica sobre o jogo do Tamoios aqui da cidade? Pouco conhecido, mas show a parte. Goleiro muito ruim e novo craque atacante apareceu, pensou.
   — Mãe — interrompeu a filha
   Nossa, preciso fazer essa crônica logo, tenho que entregar amanhã.
   — Manheeeeeee.
   — Que houve, filha? — disse jornalista
   — Mãe, mãe, mãe.
   — Fala, minha filha.
   — Quero brincar de informática — disse a menina puxando o braço da mãe
   Como vou explicar que preciso entregar essa crônica para ser publicada amanhã para uma criança de três anos?
   — Agora não dá, estou usando o computador minha filha — disse a mãe
   Sozinha em casa com a criança. Marido tinha saído com visitas, e jornalista precisava fazer o texto.
   — Mãe — a criança novamente falou, puxando o braço de sua mãe
   — Filha, mãe precisa trabalhar, tenho que escrever, entende? Vai ali brincar com a pista da Polly — disse carinhosa
   A menina saiu com beiço grande e bochechas rosadas. Cabisbaixa, foi procurar brinquedo.
   — Por onde começo? Tem atacante novo do Tamoios, um tal de Zezinho Borba que ninguém ouviu falar, mas fez dribles maravilhosos e um super gol. E o goleiro do Tupandi ficou sem defesa, acho que é por aí. A crônica tem que ser em cima disso. Depois vou ter que achar o tal Zezinho Borba, ver se consigo uma entrevista — a jornalista falava alto como se em reunião estivesse. Uma conversa do eu consigo mesma. Verdadeira sessão de psicanálise.
   — Bem vamos começar...
   — Mãe — voltou a menina
   — Que houve agora minha filha? — perguntou irritada.
   — Mãe, mãe, mãe — insistia a filha
   — Minha filha vamos fazer assim, quando a mamãe está trabalhando, você brinca. Quando a mamãe acabar, brinca com você. Tá bom? — disse com calma
   — Mãe — a menina disse sorrindo — Quero cocô.
   A jornalista pegou sua filha no colo e saiu em disparo como se estivesse em competição nos 100m rasos. Nada de africanos, no pódium só dava: mamãe!
Chegou no banheiro. Assistiu a criança e retornou ao computador.
   Concentrando, preciso fazer esse texto. É fácil. É fácil. Respirando, com calma. Consigo.
   — Mãe — disse novamente a criança, já ao lado da jornalista
   — De novo?
   — Mãe, mãe, mãe.
   — Preciso trabalhar, daqui há pouco papai chega e brinca com você, tá bom?
   Menina começou a chorar.
   — Quero você, mamãe!
   Jornalista tocou na cabeça da filha e disse:
   — Já brinco com você.
   No jornal da manhã seguinte:
   Jogo: Tamoios x Tupandi
   Camisa 10 do Tamoios matou no peito, ajeitou na ponta da chuteira e sacudiu a rede.
   Goleiro do Tupandi disse:
   — Nossa mãe!

13 comentários:

  1. HAHA...Imagino a aflição de ser mãe, dona de casa, profissional, esposa e mais trilhões de funções ao mesmo tempo...aiai...Invejem maçhões, estas somos nós...Estava com saudade de teus contos querida, dias em off e já estou de volta.
    Abraço

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  2. Por que cêis acham que eu não tenho filhos?... ser jornalista e mãe (a menos que trabalhe na Globo... rssss) são coisa que não combinam muito entre si.
    Mas Ana, tá deeeezzzz, com louvor! É bem isso, mesmo! Bjãooooooo dessa mana super orgulhosa!

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  3. Olá querida,lendo o texto senti a aflição da mãe,eita vida dura essa das mulheres modernas.
    Bjs querida.

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  4. Muito Obrigada pelo seu comentário!
    Também adoro Uma Linda Mulher...
    Tanto que já falei do filme neste post: http://nascidaemversos.blogspot.com/2010/11/filme-de-mulherzinha-uma-linda-mulher.html

    ;D

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  5. Oi, Ana, acho que de fato é sua internet ou entao o navegador. Seja como for, vc pode ver esse video sobre a obra de Clarisse aqui: http://vimeo.com/17887867

    Um beijo do observador.

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  6. Olá Ana Cecília, gostei bastante de como você trata esses assuntos que acabam caindo na rotina mas só quem tem uma responsabilidade desse tipo sabe como é dificil! Seu blog é realmente muito bom, estarei seguindo por aqui mesmo. Obrigado pelo comentário e visitar ao Catarse, espero que continue lendo meus textos. Até mais


    www.catarseonline.blogspot.com

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  7. E depois dizem que mãe não trabalha... claro que trabalha, e dobrado!

    Parabéns pelo conto: mostra claramente - e com humor - como é difícil ser mãe. Apesar disso, certamente é um amor incondicional.

    Abç!

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  8. MãeX mulherX amigaX profissional X dona de casaX irmã X as vezes ouvidos alheios X amante e tantas outras funções,mas como sempre ,nos saímos muito bem no final da história. Parabéns Ana! estou viciada no blog.

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  9. Não sei se eu sentia mais pena da criança ansiosa pelo colo da mãe, na pura inocência de seu leito domiciliar, que mesmo com a mãe do lado não a tinha perto. Ou da mãe também profissional, que precisava cumprir suas tarefas mesmo morrendo de vontade de pegar a filha nos braços e descançar de sua rotina. Fiquei dividida!
    Obrigada pelo carinho Ana!
    Beijos;

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  10. Ai, amigaaa...será que esse é o meu futuro?? kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

    Só eu sei como é louco quando a gente tem que escrever uma matéria e n sai nada. Parece que todo mundo resolve te chamar, o telefone n pára de tocar e o mais tenso é o relógio que resolve correr rsrsrsrs

    Mas, eu te falo: é isso que amo fazer! =D

    Beijos, minha flor.

    Te espero lá no blog ;)

    www.nicellealmeida.blogspot.com

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  11. Oi, que bom que gostou do meu blog tbm!
    Sou de uruguaiana! Talvez tenha achado teu blog pelo da nicelle almeida, tbm visito o blog dela ;D Beijo

    http://livreelouca.blogspot.com/

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  12. Mãe é isso aí. Mas passa mmuuiiittoo rápido, e dá saudades depois

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