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Eu e meu amigo Luciano Werhli. |
O jet lag é uma fadiga que acontece quando viajamos de avião
e atravessamos diversos fusos horários, e ocorre uma descompensação entre o
ritmo horário em que e a pessoa estava habituada, e o novo horário do local de
destino. O ritmo padrão que o corpo respondia às necessidades básicas é
alterado. Entre as consequências, ocorre uma espécie de insônia, pois o
organismo não consegue adequar-se ao novo horário de dormir; ou mesmo a pessoa tem
sono, quando não deveria.
Conversando sobre viagens com grande amigo, pois concordamos
ser uma das melhores coisas que se pode fazer na vida, começamos a trocar
experiências, dicas e curiosidades, e a falarmos de lugares e países
inesquecíveis. Não demorou para que escolhêssemos Paris, a “Cidade Luz”, como
talvez a mais belíssima experiência como viajantes que tivemos até então.
Paris é uma cidade que se descobre aos poucos. Quando estive
por lá pela primeira vez, cheguei de trem da Espanha, ao desembarcar e sair da
estação ferroviária caminhei um tanto, e pensei: “É só isto? Isto é Paris?”. Já
instalada no hotel, fui explorar o território, mas a cidade – antiga Lutécia
como batizada pelos romanos - é sedutora sutil e envolve nos detalhes. Nas
ruelas, nos cafés, num arabesco incrustado na ponte, no velho do realejo na rua
Mouffetard, na abóboda do Petit Palais, no quiche lorraine da padaria que tem
mais de 200 anos. E assim, eu e meu amigo concordamos sobre Paris e logo
começamos a sentir uma fadiga que nomeei como: jet lag emocional.
O jet lag emocional, expressão que criei, penso que se faz
adequada quando se tem a sensação de descompensação entre o lugar em que se
está e onde se desejaria estar. E ali, dois amigos com vontade de retornar à
Paris, mas estando a mais de 10.000km de distância, o que causou tamanha
nostalgia e a fadiga eminente mesmo entre xícaras de café.
E quantas vezes não nos encontramos numa absurda distância
entre dois cenários? Ou a expectativa e a realidade? Os sonhos e sua
concretização?
Há os que digam que não se deve criar expectativas nas
coisas, para que não haja a decepção. Na minha visão, a expectativa caminha
junto com os sonhos; e a decepção com a ilusão. Qual você escolheria?
Correr o risco do jet lag emocional parece-me mais sábio. A
vida é curta, e Paris - aqui um cenário de sentindo amplo, o destino desejado
há muito - é logo ali, para quem sabe honrar cada dia de sua existência.
*Crônica publicada nos jornais: NH (Novo Hamburgo), Diário Popular (Pelotas),
VS (São Leopoldo), Correio de Gravataí e Diário de Viamão.