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Fotografia de Ana Cecília Romeu |
Rebentação
Carrego comigo
esse orvalho no olhar
a plangência no peito
e os pés cheios de inundação.
Há um rio que me atravessa.
Fértil
A pétala sabe,
levemente quando cai
que seu destino é ser porto
do solo que a espera.
(poemas
de Adri Aleixo)
Posfácio de minha autoria publicado no livro Des. caminhos, de Adri Aleixo:
Des. caminhos entre pétalas e fulgurações
Há uma mulher sentada em imenso campo. Segura uma flor cor
areia e carmim por entre os dedos e desfolha mundos ao sussurrar do vento: “bem
me quer, mal me quer...” Pétala a pétala desenha caminhos em dia de céu azul. O
sol sela cumplicidade ao cortejá-la sem cerimônias. Ele sabe serem dela as muitas
eternidades, as que começam na palma de sua mão de traços finos, serenos e
sutilmente assertivos, e que alçam voo elegante ao tocar em nuvens de algodão e
cintilar matizes com luz própria, fertilizando gotas e sementes: o
transcendente, que letra por letra despetala em vidas, as muitas que o olhar do
leitor pode colher e replantar.
Sinto a obra de Adri Aleixo, Des. caminhos, como se a poeta
deslizasse delicadamente seus dedos ao despetalar rotas e reconstruir
horizontes.
A tessitura de seus poemas possui a marca do olhar feminino
sobre tudo que a habita. Por vezes, os detalhes, ou apenas um; em outras, a
flor inteira.
Em Des. caminhos, Adri Aleixo conduz o leitor ofertando com
carinho um fio de Ariadne, que longe de asfixiar ou amarrar, o envolve em
guirlandas de letras que situam e instigam sua imaginação no perder-se de
tantas trilhas. Dentro desse inusitado labirinto construído pelo traço longilíneo
e profundo, a escritora permite ao leitor criar outra dimensão, que em
neologismo meu chamei de imã-ginação: a capacidade de atrair outros mundos ao
seu próprio.
O onírico, o telúrico, as forças da natureza, o ser em toda sua
plenitude abordados na voz franca de suas indagações existenciais ao deslindar suas
relações como quem conversa com amigo íntimo, marcam o Des. caminhos. Não
existe nesta obra bússola ou termômetro, nada é mensurável, mas são tantas as
pétalas de aromas vários e sabores à fruta fresca da estação que audazes tocam o
intangível, traçando pequenos ângulos sem perpendiculares, onde aparentemente
não haveria frestas a passar.
A obra de estreia dessa nova escritora nos propicia perder-se
em Des. caminhos para, pouco a pouco, pétala a pétala, sermos conduzidos ao
profundo, onde tudo se faz mais claro e sereno. Lá, algures entre sinapses e fagulhas;
em terra firme ou no alto mar, nos deixando livres na escolha entre o mergulho ou
a exposição da claridade nos poros.
Nunca me fez tanto sentido a pequena frase que rabisquei em
um canto de página qualquer, como quando o olhar poético de Adri Aleixo a
atestou: a beleza é anterior ao que se vê. Assim, a poeta escreveu seus Des.
caminhos, entre pétalas e fulgurações.
Informações sobre a autora e a obra, neste LINK.
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