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El Ateneo Grand Splendid - não encontrada referência autoral da imagem |
Sempre foste meu espelho,
quero dizer que para me ver, tinha que olhar-te.
quero dizer que para me ver, tinha que olhar-te.
(Julio Cortázar in
Bolero - tradução livre)
Buenos Aires, janeiro
de um ano qualquer.
A mulher
estava no café da livraria, alojado no palco do que antes fora o teatro
homônimo, atestando se aquela de fato era a segunda mais bela loja de livros de
todo o mundo. Há o aspecto subjetivo, pensou. Sentou-se à mesa no canto
segurando uma antologia de Cortázar, edição de luxo, capa dura em dedos macios.
Sorvia o
café meio-forte, folheando-a aleatoriamente ao deixar que o destino e seus
sortilégios elegessem um futuro mais claro, como quem se esquece da bola de
cristal, mas ainda crê nos reflexos das bolhas de sabão. Com os aromas do
café, de seu perfume preferido e da tinta fresca na parede lateral, abriu à
página 44:
“Fui uma letra de tango
para tua indiferente melodia.” *
Depois de
ler, a mulher apertou com o indicador direito as duas gotas de café que,
indisciplinadas, caíram para fora da xícara. Entre suas digitais, sonhos
furtivos, impossibilidades e toda a eternidade, disse-lhe o poeta o que não
ousou contestar. Estava ali, na El Ateneo
Grand Splendid, onde na plateia há livros sentados e amor na próxima
página, na de número quarenta e cinco.
*Julio Cortázar in Siempre empezó a llover
Fito Paéz - Un vestido y un amor
Agradeço a todos pela leitura e comentários.
ResponderExcluirGrande abraço!
O texto nos transporta para um imaginário aprimorado, onde o livro vira o personagem principal entre milhares. Parabéns pelo a primor da escrita.
ResponderExcluirQue lindo,Ana! E que bom sempre te ver! Momento lindo esse! bjs, tudo de bom,chica
ResponderExcluirBelo texto! Reacendeu-me a vontade de ler Cortázar.
ResponderExcluirConseguiste transportar toda a beleza de um lugar, seus encantamentos em tuas palavras, feito gotas de café nas digitais!
Beijo.
Bom dia querida Ana.. sempre muito grato pelas tuas palavras.. eu sei que cutuco um pouco srs mas o que vejo eu não deixo escapar..
ResponderExcluirsobre o que escreveste.. ainda nos dias de hoje são poucas as pessoas que realmente mergulham num livro e dele vivenciam as cenas, se transportam para o personagem.. assim é a poesia, o romance ou qualquer outro genero.. se estamos empenhados em ler a fundo a gente passa a cocriar aquilo.. bjs e até sempre
Texto cheio de imagem... sonhos... oásis... gostei!
ResponderExcluirOlá Cissa,
ResponderExcluirQue texto mais lindo. Tiro meu chapéu para a sua arte na escrita.
Adorei a citação que encabeça a postagem, de Júlio Cortázar.
A cena descrita, de tão cristalina, dá para ser assistida através de suas palavras. Posso imaginar a desolação da mulher ao deparar com as palavras da página 44 da antologia. Ainda bem que há amor a partir da página 45. Basta virar a página 44.
Não pude ouvir a música. Não sei porquê, nem todos os vídeos estão tocando por aqui. Terei que fazer uma revisão no som do meu computador.
Beijão.
Ana,por aqui o bom gôsto impera! Que beleza de texto e adorei as imagens tb! bjs,
ResponderExcluirQuerida Cissa, a música que escolheu tem um espaço especial em meu coração. Gosto demais dela.
ResponderExcluirVocê nos levou para um determinado lugar, nos acomodou e nos fez sentir o que desejou transmitir com seu texto, de forma poética e muito bela.
Um livro, umas palavras, um voo triste... a esperança que se apresenta na próxima página. Parabéns pela escrita primorosa. Grande beijo!
"fui uma letra de tango
ResponderExcluirpara a tua indiferente melodia"
a mais bela livraria do mundo não se encontra em buenos aires, nem em maastricht, nem mesmo no porto; é nesses lugares misteriosos onde as palavras, meros filtros arbitrários, se conjugam na harmonia perfeita das grandes sinfonias, combinações mágicas de sons e sentires que, murmurantes, quase silenciosas, agitam válvulas e canais de sangue num incitamento de paisagens, cores e cheiros. e todas as gotas de café se libertam, rebeldes, em direção ao grande mistério da obra: os lábios e cada uma das suas constelações.
texto-arrepio este, aninha. beijos ao ritmo das manhãs a desprender orvalho!
Querida Cissa
ResponderExcluirVocê consegue transmitir mais beleza em tudo que já é belo.
Adoro. Bjs.
Minha querida amiga
ResponderExcluirObrigada por estes deliciosos momentos.
Fechando os olhos imaginei-me na Livraria Lello, no Porto,* (apenas porque a conheço bem) e pude "ver" toda a ambiência que tão bem nos descreve - senti até o aroma do café!
A citação de Júlio Cortázar é óptima.
Gostei muito do vídeo, que não conhecia. A música é linda.
Um excelente fim de semana.
Beijinhos
* A Livraria Lello, no Porto, é considerada uma das mais belas do mundo.
Querida amiga Mariazita,
Excluirquando estivemos no Porto, a Lello estava fechada... acreditas? ...
Pois, sim, não sou afeita a esses recordes, mas já soube, por curiosidade, que a Lello é considerada a terceira mais bela do mundo. Esta, a El Ateneo Grand Splendid, situada em Buenos Aires, é considerada a segunda mais bela. :)
Grande beijo e um excelente fim de semana!
Agradeço pelos comentários e a atenção,
ResponderExcluirMarquitos, Pedro, Chuiquinha, Ana Paula, Samuel, Bel, Verinha, Anne, Marilene, Jorge, Elisa, Mariazita.
Abraço imenso!
Belíssimo lugar Cissa, poxa, caso entrasse num lugar desse não sei se escolhia algo pra comprar, admirar o lugar, bater fotos, enfim, coisa de primeiro mundo mesmo, e a canção do Fito Páez muito bacana.
ResponderExcluirOlá,Bom dia, Cissa
ResponderExcluirComo vai?Comigo,tudo na paz!
O mundo atual é cheio de interrupção e instantaneidade e esse estado incomoda, impacienta e desorienta, ainda mais quando é permeado por estímulos constantemente renovados... talvez encontremos a consciência sobre o que é importante, descartável ou indiferente, quando deixarmos de abandonar à si para ir em direção ao outro...
Obrigado pelo carinho,belo final de semana, beijos!
Olá, Ana.
ResponderExcluirBelo e contundente momento de reflexão; acredito que, quando estamos acompanhados de uma boa música em um local onde nossos pensamentos e sentimentos possam vagar livremente, conseguimos alcançar um estado de paz interior que é cada vez mais raro de se conseguir hoje em dia
É em momentos como estes que conseguimos nos dar de conta do quanto somos vastos e únicos, e sempre devemos nos lembrar disso.
Abraço e bom domingo pra ti, Ana.
Oi Cissa,
ResponderExcluira próxima página... sempre haverá uma próxima página. E nela seus segredos e encantos.
Fiquei aqui imaginando a livraria... a pessoa, o livro..
Lindo! leve como você!
Bjs
Leila
Que bela narrativa minha amiga! Deus pra imaginar muito bem todo o texto.
ResponderExcluirVocê tem o dom da escrita!
Um abração a todo o povo daí!
Agradeço pelos comentários,
ResponderExcluirPaulo, Félix, Jacques, Leila e André.
Grande abraço!
Minha querida
ResponderExcluirOs teus textos conseguem colocar-nos no tempo e espaço em que tu os relatas. como sempre adorei e deixo o meu beijinho carinhoso.
Sonhadora
Oi Cissa
ResponderExcluirDemorei mas cheguei kkkkkk. Legal esse texto. Leve, com tom de nostalgia. Me imaginei lá, naquela linda e chiquérrrrrima livraria novamente! O texto nos deixa um final para imaginarmos o que quisermos e eu já fiz o meu no meu pensamento, é claro que que com muito romantismo kkkkk.
Bjos. queridona!
Grande, uma prosa que nos arrebata, que convida, acolhe.
ResponderExcluirTu és maravilhosa. Beijos, flor!
Cissinha,
ResponderExcluireis-me aqui e já chego fazendo uma relação de Jorge Luís Borges e o café. Os árabes acreditavam que era possível descobrir o destino nas borras de café - e assim com os japoneses fazem um ritual para o preparo do chá, os árabes também praticavam este ritual com o café. Onde Borges entra nessa história? Bem, o escritor argentino era fascinado pelas clássicas narrativas das "Mil e uma noites" (e há fábulas neste livro onde se fala dessa tradição de "ler o futuro" através da borra de café) e esta obra foi fundamental para a formação do estilo literatura fantástica que é encontrada no repertório de Borges. Assim, café, literatura e Buenos Aires sempre me traz a lembrança desta relação interessantíssima.
A mulher do conto deixou-se levar pelos caminhos da literatura - que tem essa magia, tal como uma fábula de Sherazade, de indicar trajetórias, aconselhar, refletir... e a esperança de que ao virarmos a página encontraremos a melodia que tenha a ver com a nossa letra. Porque em muitas ocasiões é disso que precisamos: deixar-nos levar e ter a coragem de virar as páginas; um dia revisaremos tais páginas, mas em momentos distintos - "Panta rei" ("tudo flui"), nos ensinou Heráclito. Que assim seja.
Beijo, minha querida! Adorei o texto, levanta tantas e tantas reflexões...! Obrigado por isso! :)
Texto harmônico e belo, Anita.
ResponderExcluirO que dizer mais depois do comentário acima de Jaime Guimarães?
Abrazos
Agradeço pelos comentários,
ResponderExcluirRosa-Sonhadora, Lucianinha, Adri, Jaime e Benício.
Abraço imenso!
Você é demais Ana Cecília, como sempre adorei ler você.
ResponderExcluirAmei o vídeo, música linda e que piano mais tocante.
Grande beijo no coração.
Querida amiga
ResponderExcluirVou viajar. Estarei ausente por dois meses, no mínimo.
Sempre que tiver oportunidade irei ao meu blog e farei visitas tanto quanto for possível.
Tenho no «DEUSA» um post de despedida.
Tenho que usar este esquema de “copy & paste” porque não tenho tempo para me despedir de cada pessoa individualmente.
Deixo um beijo amigo e um “até sempre”.
Miguel
Oi Cissa!
ResponderExcluirNossa faz tempo que eu nao visitava os blogs de que gostava, tirei o dia para fazer isso hoje...e o seu foio primeiro da lista!
Como sempre, sua forma de escrever é uma delícia rs..gosto do ritmo da narrativa, da mistura de sensações para descrever. Não pare nunca!
bjs
Beijos e obrigada, Maria Teresa, Miguel e Tsu (Pri)!
ResponderExcluirÉ suave e encantador o texto. Penetra no coração da gente e nos transporta para o cenário em que se desenvolve. Lindo! Um beijo no seu coração, minha querida.
ResponderExcluirAgradeço pelas palavras de incentivo e a companhia, Paulo César.
ExcluirBeijos!