quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Série "O" - Conto 2: O lutador

   Russo levava soco da vida, parecia o Mohamed Ali, todos os socos do mundo, mas não caía. Nas lutas que disputava, deixava os punhos do adversário que nem duas abóboras carameladas, e o Russo estava sempre de pé.
  Certa vez, depois de nocautear dois lutadores em noite de gala no Adelino’s Club, foi para casa. Ainda segurava a bochecha esquerda, um dos famosos tiques de Russo, quando entrou em casa. A mulher sentada assistindo novela com seu amigo Osvaldão que o esperava. Suspeito, pensou Russo, mas o cara era seu amigo desde época em que treinavam dando soco em lata de Neston.
  Osvaldão falou do esquema de novas lutas, como ganhar mais grana, tem umas bocadas legais, lugar de gente fina, só rola soma alta, e tu Russo é o cara que aguenta essas paradas. Russo aceitou, o dinheiro para o aluguel estava curto e manter mulher nova, com roupa nova, sofá novo, panela nova, era muita coisa.
  Duas noites depois, e Osvaldão cumprimentava todo mundo com três tapinhas nas costas. O cara do bigode, o sem bigode, o gordo, o magro, o feio e o nem tanto. Conhecia todos pelo nome e acertou luta para Russo.
   Mais duas noites e Russo se via em plena arena, fumaça, cheiro de alvejante e perfume doce. Começou o festival de socos. Russo aguentava, sempre aguentava, mas nesta noite estava especialmente cansado. Levava todos os socos, como sempre, e não caía, mas estava atacando pouco. Nos intervalos, Osvaldão preocupado, mastigava o já esfarelado chiclé:
   — Puxa Russo, o cara do bigode e o feio, são donos daqui, prometeram muitas lutas para ti, mas não me decepciona cara.
   Russo volta à luta, não cai, mas quase não dá soco.
   Intervalo.
   — Russo, que tá acontecendo, cara?
   Leva soco, não dá soco.
   Intervalo.
   — O cara do bigode tá olhando torto e o feio, tá mais feio ainda. Reage homem!
   Mais soco. Sem soco.
   Intervalo.
   — Que tá acontecendo amigo? Fala para mim, tu tem que vencer,  cara!
   — Tenho que te falar uma coisa Osvaldão — disse Russo com voz estridente
   — Que houve cara?
   — Não quer levar aquela mulher pra ti? — falou Russo
   — Que mulher, a tua?
   — Sim cara, não aguento mais.
   Mais soco. Sem soco.
   Intervalo.
   — Mas não quero tua mulher, que é isso, tá me estranhando? — disse Osvaldão
   — Só consigo vencer se tu levar a mulher longe da minha vista, não aguento mais.
   — Por que cara?
   — Bonita, mas muito cara, e agora tem um tal de computador — disse Russo
   Osvaldão pensou que era uma boa, já tinha caso de mais de ano, não precisaria ficar passando os tais de e-mails e a mulher não era tão cara assim, aceitava sexo com camisinha perfumada da promoção.
   — Topo!
   Russo levou soco, deu muito soco e venceu.
  Bigode sorriu. E o feio, mais feio ainda, com a boca aberta, os dentes pareciam uma montanha russa despencada.
  Meses depois, décima vitória, Russo chega em casa. Esfrega a bochecha amarelada antes de ligar o computador, digita mensagem:
   — Mulher, amanhã me traz o arroz bem branco, nada de misturar cebola. E diz pro Osvaldão que ele é forte, essas coisas, o baixinho vai se achar fortão, e não atrasa o teu,  pro meu aluguel.

4 comentários:

  1. Muito bom UAHWUAHUAHWAUHW, estou seguindo, se der de uma passada pelo meu. www.umaformadepensamento.blogspot.com

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Parabéns pelo blog.. entra no meu e se gostar pode seguir!!

    ps.: estou te seguindo!

    Também sou formado em PP.. mais vou confessar uma coisa para você..rs.. sou péssimo em criação..por isso meu blog esta em constante evolução..rs.. sou 100% comercial..rs..

    Abraço,
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